terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O DOMÍNIO GREGO E A HISTÓRIA DE CHANUKÁ

A terra de Israel sempre foi alvo de disputas e cobiça por parte de grandes Impérios e de seus países vizinhos. 

Em Chanuká, festa muito comemorada por todos os judeus com o acendimento, por oito dias consecutivos, da chanukiá (menorá com oito braços), a história não foi diferente.


VISITANDO O PASSADO


Depois da morte do Rei Salomão, em 928 AEC, Israel foi dividida em dois reinos. Ao norte, o Reino de Israel, com dez tribos e, ao sul, o Reino de Judá, com duas tribos (Judá e Benjamim). Enquanto o Reino de Norte era governado por reis que praticavam a idolatria, os reis do Reino do Sul, descendentes da Casa de David, mantiveram-se, salvo em alguns períodos, observantes das leis da Torá (a Bíblia judaica).

O Reino de Israel permaneceu por mais 200 anos, quando, em 722 AEC, foi invadido, conquistado e exilado pelos Assírios, a potência da época. O Reino de Israel desapareceu. Ainda hoje, os vestígios dessas tribos são procurados por historiadores, pesquisadores e rabinos.

Já o Reino de Judá ou Judeia permaneceu por mais 344 anos depois da extinção do Reino de Israel. Foi durante esse período que uma nova potência ascendeu, a Babilônia, e pôs na rota de suas conquistas, a remanescente Judeia, que caiu ante o poderoso inimigo. O Primeiro Templo foi destruído e o povo exilado para a Babilônia. Setenta anos depois, foi-lhes permitido retornar para a sua terra, com a autorização dos atuais governantes da Judeia e nova potência da época, os persas. O Segundo Templo foi construído nesse período.


ASCENSÃO DO HELENISMO

Em 338 AEC, uma nova liderança surgiu - a de Alexandre III, da Macedônia (Reino ao norte da Grécia). Conhecido historicamente como Alexandre, o Grande ou Alexandre Magno. Felipe II, pai de Alexandre, uniu forças com os gregos, formando um poderoso exército na intenção de conquistar o Império Persa. Morreu em batalha antes de concretizar o sonho.

Habilidoso nas artes da guerra, Alexandre, que sucedeu o pai, dominou toda a Grécia, à exceção de Esparta e partiu rumo ao ambicioso sonho de conquistas e, com isso, almejou erguer um grande Império. 

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Alexandre conquistou a Judeia em 332 AEC. Ele também derrotou e extinguiu o Império Persa em 330 AEC. Não perdeu uma só guerra. O Império Grego ficou gigante e compreendia desde a Grécia até o Egito passando pelo noroeste da Índia. Junto com as conquistas territoriais, Alexandre também difundiu nos países dominados a cultura helenista, um misto da cultura grega com a cultura do Oriente Médio. O Helenismo era, na essência, uma cultura pagã e laica. 




Mosaico de Alexandre Magno e seu cavalo, exposto no 
Museu Arqueológico Nacional, em Nápoles


Com a morte de Alexandre Magno, o Império Grego dividiu-se entre seus quatro generais:

  • Ptolomeu: Egito
  • Selêuko: Síria e Persa
  • Cassandro: Grécia
  • Lisímaco: Ásia Menor

Para o assunto deste post focaremos em Ptolomeu, que fundou a dinastia Ptolomaica e Selêuko, que fundou a dinastia dos Selêucidas. Cito esses dois nomes, porque como a Judeia era limítrofe entre os dois Impérios, ficou, primeiramente, sob o domínio Ptolomaico (de 312 AEC a 198 AEC), passando depois para o domínio (sírio) dos Selêucidas, a partir de 198 AEC. 

Com a morte de Selêuko IV, seu irmão, Antíoco IV Epifanes (em grego, manifestação divina),  o sucedeu. Há algumas opiniões que chamam o monarca de Epimanes ("o louco"). Antíoco superou seus antecessores no rigor e crueldade.

Antíoco queria unificar as religiões e impor a cultura helenista aos povos dominados. Na Judeia houve forte resistência. Helenismo e Judaísmo não combinavam. 


O DOMÍNIO GRECO-SÍRIO SOB A JUDEIA



O contato dos judeus com a cultura helenista trazida pelo Império Greco-Sírio levou parte dos judeus a se "helenizarem", enquanto que grande parte da população judaica da Judeia manteve-se fiel aos princípios e à maneira judaica de ser.
Pelo contrário, fortaleceram dentro de si o pacto sagrado com a Torá.

Notadamente houve dois conflitos: um, externo, contra a opressão e a influência de uma cultura "estranha", o Helenismo e, outro, interno, entre os judeus já assimilados à cultura helenista e os que se mantiveram nos caminhos da Torá. 

Os judeus assimilados aliaram-se ao Império Greco-Sírio no combate do Judaísmo tradicional. Por outro lado, Antíoco considerou o sentimento judaico de autopreservação e, consequentemente, a rejeição à cultura helenista, como um ato de rebeldia e, por conta disso, tomou medidas drásticas para conter a "rebelião".

Por volta de 175 AEC, o rei outorgou importantes e restritivos decretos contra a manutenção da religião judaica, proibindo sob pena de de morte, o estudo da Torá, o cumprimento do Shabat, o  Brit Milá (circuncisão) e a consagração do novo mês (Rosh Chôdesh). Milhares de judeus foram mortos. O Templo Sagrado foi profanado, transformando-se num local de práticas pagãs. Os azeites puros usados no acendimento diário da Menorá e que eram conservados em "jarrinhos" com o lacre do Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) foram maculados. 

O povo judeu sentindo o grande perigo que o assombrava não viu outra saída, a não ser declarar guerra contra o inimigo.


OS MACABEUS - HAMAKABIM


Um pequeno grupo, encabeçado pela família Chashmonaí (Hashmoneus), de Matatias e seus cinco filhos , todos Cohanim - Sacerdotes, empreenderam a missão de guerrear contra a dominação greco-síria de sobre a Terra de Israel. Mesmo tendo sido envolvido por grande risco de vida, os corajosos judeus, determinados pela fé em D-us, lutaram contra o experiente exército selêucida e milagrosamente os venceram. 

Conforme está escrito na tefilá recitada em Chanuká:

"... entregastes os fortes nas mãos dos fracos, os numerosos às minorias, os impuros aos puros, os maus aos justos, os mal-intencionados aos que cumprem a Tua Torá...".

O grupo ficou conhecido como MaKaBIm pelas iniciais do versículo: Mi Kamocha Baelim Hashem" - "Quem é como Hashem entre os deuses?" (Shemot 15:11).

Na data judaica de 25 de Kislev, os Macabeus restabeleceram a posse do Templo Sagrado, limpando-o das impurezas deixadas pelos invasores. Quiseram acender a Menorá. Encontraram um único jarro, intacto, apto para ser usado no acendimento da Menorá, contendo azeite suficiente para um dia. Deu-se outro milagre! O azeite durou por oito dias, tempo suficiente para a fabricação de novo azeite.



CHANUKÁ


A festa de Chanuká foi incorporada ao calendário judaico, levou esse nome por pelo menos dois motivos:

1. Chanuká significa inauguração. Este nome está relacionado à dedicação do Templo Sagrado, conforme já foi falado acima.
2. Desmembrando a palavra Chanuká obtemos Chanu (descansaram) em (letras Kaf e Hê), que somam 25. Os Macabeus descansaram em 25 (de Kislev). 




PALAVRAS FINAIS


A história de Chanuká está cheia de idas e vindas. Milagres e sobrevivência. Uma das grandes lições que podemos retirar desta linda festa é que "Ên davar haomed bifnê haratzon" - "Nada persiste diante da vontade~. Com muita determinação podemos vencer e transpor todas as dificuldades e barreiras que nos impedem de alcançar nossos objetivos de vida.


FONTES:

Morashá Syllabus
Chabad.org
Eliahu KITOV, Sêfer HaTodaá, Israel.