segunda-feira, 11 de maio de 2020

RABI AKIVA

Lag Baômer, o trigésimo terceiro dia da Contagem do Ômer, remete a uma das grandes personalidades do mundo judaico: Rabi Akiva. Foi nesse dia que cessou a epidemia que vitimou seus 24 mil alunos. Somente cinco de seus alunos sobreviveram, e foram: Rabi Meir, Rabi Yehudá, Rabi Yossi, Rabi Nechemiá e Rabi Shimon Bar Iochai. O fim da epidemia marcou o início da reconstrução do Judaísmo na terra de Israel, com o restabelecimento de sua Casa de Estudo.

A vida do grande mestre Rabi Akiva é o tema do post da semana.


Lag B'Omer in the United Kingdom

RABI AKIVA

Rabi Akiva viveu em um dos períodos mais difíceis e sangrentos da história do povo judeu: o domínio romano sobre a Terra de Israel. Aproximadamente metade de sua vida deu-se antes da destruição do Segundo Templo e de Jerusalém pelo exército romano, enquanto que a outra parte, ele viveu sob o domínio deste poderoso império na Terra de Israel. Ao todo, o sábio viveu 120 anos.

Descendente de Síssera, o general canaanita derrotado por Yael, o pai de Rabi Akiva converteu-se ao Judaísmo motivado por abraçar os valores judaicos autênticos. Adotou o nome de Yossef. Casou-se com uma judia e dessa união nasceu Akiva.

Yossef não tinha conhecimento judaico suficiente para educar o filho no estudo da Torá. Apesar das boas virtudes, Akiva cresceu "Am Haaretz" - (termo aplicado a um judeu sem instrução), procurando um trabalho para se sustentar. Foi nessa busca que começou a trabalhar como pastor, para o milionário jerusalemita Kalba Savua.

AKIVA E RACHEL

Kalba Savua tinha uma filha única, a virtuosa Rachel. Seu sonho era casá-la com um estudioso da Torá. E não lhe faltavam pretendentes!

Porém, Rachel encantou-se com Akiva, que, ainda que não fosse um sábio da Torá, destacava-se pelas boas virtudes. Ele era discreto, piedoso, paciente e de bom coração. A jovem estava certa de que se Akiva se dispusesse a estudar Torá com afinco, certamente se tornaria um Talmid Chacham - um erudito em Torá. Rachel se dispôs a casar-se com ele nessas condições. Na época, Akiva tinha 40 anos. Ele aceitou e os dois casaram-se em segredo.

Quando Kalba Savua descobriu o casamento da filha com um ignorante, ficou inconformado. Afinal, o que aconteceu com Rachel para que ela cometesse tamanha insanidade? Ambos foram expulsos da casa do milionário, que ainda prometeu deserdar a filha.

Sem apoio do pai, Rachel e Akiva passaram a viver em extrema pobreza.

AKIVA CUMPRE A PROMESSA

Chegara o momento de Akiva cumprir a promessa feita a Rachel. Porém a idade avançada para um começo não estimulava. Como poderia frequentar uma Yeshivá - Casa de Estudos - sem nunca ter estudado a Mishná (Torá Oral)?

Certa vez, Akiva passou diante de um poço e viu uma pedra com um profundo sulco provocado pelo constante gotejamento da água do poço. Ele pensou: "Se gotas de água conseguem perfurar uma sólida rocha, certamente as palavras da Torá conseguirão penetrar no meu coração de carne e osso!". 

Akiva foi estudar Torá na Yeshivá de Rabi Eliezer e Rabi Yehoshua, grandes sábios da sua geração.

VINTE E QUATRO MIL ALUNOS

Tal dedicação ao estudo da Torá levou, ao agora, Rabi Akiva a reunir, no final de doze anos de estudos, doze mil alunos. Cumprida a promessa feita para Rachel, era hora de voltar para casa. Lá chegando, ouviu uma conversa entre sua esposa e um vizinho, que elogiava a postura de Kalba Savua ao deserdar sua filha por ter casado com um homem que nem mesmo era merecedor dela. Rachel, por sua vez, retrucou: "Se meu marido pudesse me escutar, ele voltaria e estudaria outros doze anos!". Foi a deixa para Rabi Akiva voltar e passar mais doze anos estudando Torá.

Passados vinte e quatro anos, Rabi Akiva transformou-se num grande sábio da Torá. Acompanhado de seus vinte e quatro mil alunos, retornou à sua casa.

O QUE É MEU E DE VOCÊS, A ELA PERTENCE!

No retorno, Rabi Akiva foi recebido com todas as honras pelos habitantes da cidade, inclusive Rachel. A pobreza a impediu de vestir-se adequadamente para o evento, porém, suas roupas, gastas pelo tempo, não a intimidaram. Disse ela: "Assim está escrito em Mishlê (Livro dos Provérbios) 12-10: 'O justo se preocupa com a vida de seus animais'". No sentido figurado, o dito é usado para exemplificar o conhecimento mútuo e profundo entre duas pessoas. Em outras palavras, Rachel quis dizer que assim como ela reconheceu a grandeza de Rabi Akiva, mesmo sendo um simples pastor de ovelhas, ele reconheceria o valor de sua esposa, independente da forma que estivesse vestida.

No reencontro, Rachel caiu aos pés de seu marido. Os alunos quiseram impedi-la, porém Rabi Akiva disse: "Deixem-na! O que é meu e de vocês, a ela pertence! Toda a sabedoria que eu adquiri e que vocês aprenderam de mim, é pelo mérito dela. Ela foi quem me incentivou a estudar numa Yeshivá".

Ao saber da presença do grande sábio na cidade, Kalba Savua o procurou para desfazer a promessa de deserdar sua filha. O ricaço não reconheceu que se tratava de seu próprio genro. Disse: "Se eu soubesse que teria um genro capaz de estudar somente uma halachá (lei judaica), não teria feito essa promessa!". Rabi Akiva fez-se reconhecer ao sogro e eles fizeram as pazes.

A CIDADE DE BETAR

Depois da destruição do Segundo Templo, os romanos ainda continuaram a amargurar a vida dos judeus que viviam em Israel. Apesar da situação catastrófica, a populosa cidade de Betar continuava a existir repleta de sábios e escribas. O que levou a sua completa destruição, mesmo depois de cinquenta e dois anos da destruição de Jerusalém? 

Nossos sábios relatam a seguinte história:

Em Betar havia um costume relacionado ao nascimento das crianças na cidade: a cada menino nascido era plantada uma árvore de cedro; quando o bebê era do sexo feminino era plantada uma árvore de acácia. 

Certa vez, quando a filha do César passava pela cidade, aconteceu que o eixo de carruagem que a transportava quebrou. Para consertá-la, os servos cortaram uma árvore de cedro, daquelas que eram plantadas em homenagem ao nascimento de um menino. Os judeus não gostaram e atacaram a comitiva dos romanos.

Os servos da filha do Imperador se dirigiram ao César e relataram que os judeus tinham se rebelado contra Roma. O Imperador organizou seu exército para atacar a cidade de Betar.

UMA ESTRELA SURGIU DE YAACOV (BAMIDBAR 24:17)


Moedas cunhadas em lembrança à revolta de Bar Koziva


Os romanos mudaram a política em relação aos judeus e à prática do Judaísmo. Em vez de permitir a reconstrução do Templo Sagrado, resolveram transformá-lo num local de culto idólatra. Pelos planos do Imperador Romano, Jerusalém se transformaria numa cidade romana. Em 137 EC, surgiu o valente Bar Koziva, que organizou um exército para rebelar-se contra aquele domínio opressor.

Para participar de seu exército era necessário amputar o próprio dedo. Logicamente essa condição não agradou nem um pouco aos sábios que o interpelaram. Bar Koziva mudou o teste por sugestão dos sábios: todo aquele que não conseguisse arrancar uma árvore de cedro pelo raiz, enquanto estivesse correndo montado em seu cavalo, não poderia integrar seu exército. 

O sucesso nas incursões contra os romanos levou o grande Rabi Akiva a acreditar que Bar Koziva era o tão esperado Messias. O sábio declarou que "uma estrela surgiu em Yaacov", foi quando Bar Koziva ficou conhecido como Bar Kochbá - o filho da estrela. Rabi Yochanan ben Tursa, entretanto, discordou daquela opinião, dizendo: "A grama crescerá em suas faces (Rabi Akiva) e o filho de David (Messias) ainda não terá chegado!".

O Imperador Adriano cercou a cidade de Betar por três anos, sem conseguir, entretanto, conquistá-la.

Numa ocasião, quando o exército de Bar Koziva se preparava para sair numa incursão contra o exército romano, um ancião se aproximou e desejou que Hashem o ajudasse naquela missão. Bar Koziva respondeu blasfemando contra D-us: "Que Ele não me ajude e nem me atrapalhe!". Em outra situação, desconfiou de seu próprio tio, o grande Rabi Elazar Hamodai, matando-o num momento de fúria.

QUEDA DE BETAR

Lentamente, os romanos foram se recuperando das derrotas sofridas e minando a resistência de Bar Kochbá. Retomaram Jerusalém e empreenderam uma perseguição contra o líder da resistência judaica, que havia se refugiado em Betar. 

Foi o final de Bar Koziva. Ele foi capturado e condenado à morte. Os romanos entraram em Betar, assassinando homens, mulheres e crianças. Adriano ordenou que os mortos não fossem sepultados. Com a queda de Betar, acabou-se por completo a esperança de reconstrução de Israel.

RABI AKIVA: UM MÁRTIR

Os romanos queriam a destruição completa do Judaísmo. Logo promulgaram decretos proibindo o estudo da Torá, bem como a observância dos mandamentos. A desobediência era punida com morte.

Rabi Akiva recusou-se a cumprir as determinações romanas e, por ser considerado um líder importante dentro do povo judeu, recebeu a pena capital. Suas últimas palavras foram: "Shemá Israel Hashem Elokênu Hashem Echad" - "Escuta Israel, Hashem é nosso D-us, D-us é um". Nos seus últimos momentos, mesmo na agonia, Rabi Akiva proclamou a unicidade de D-us.

FRASES CÉLEBRES DE RABI AKIVA:

Rabi Akiva costumava dizer que tudo o que Hashem faz é para o bem!

Em complemento ao versículo "Amarás ao próximo como a ti mesmo" (Levítico 19:18), Rabi Akiva dizia que este era o maior princípio da Torá (Ética dos Pais).

Ainda em Ética dos Pais, encontramos os seguintes ditos:

"Gargalhada e frivolidade acostumam o homem à luxúria. A Tradição (a Torá Oral) é uma cerca (de proteção) em torno da Torá; os dízimos são uma cerca para a riqueza; as promessas são uma cerca à abstinência; uma cerca para a sabedoria é o silêncio".

"Tudo está previsto, porém foi concedida a liberdade de escolha; o mundo é julgado com bondade, e tudo é de acordo com a preponderância das (boas) ações".


Espero que tenham gostado!
Lag Baômer Sameach!




















Um comentário:

  1. É muito bom ler às histórias que voce escreve é conta tão ele.Obrigada

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Obrigada pelo comentário.