CHASSIDISMO
Para melhor compreensão do texto, leia o post anterior 18 de Elul 1/2.Para desassossego dos judeus, o Massacre de Chmielnicki não foi a única onda de terror que assombrou as comunidades judaicas naquela época e região. Vez por outra, eles enfrentavam pogroms, perseguições e muita discriminação. Muito menos, as sementes dos falsos Messias foram extirpadas com Shabtai Tzvi. Anos mais tarde, os judeus assistiram ao surgimento de Jacob Frank (1726 - 1791), outro que se auto-proclamou o Redentor do povo e que, como seu antecessor, teve um final não menos trágico (Frank converteu-se ao Catolicismo).
Os judeus viviam uma vida miserável. Além da pobreza absoluta, enfrentaram dentro do seio do povo judeu um outro "fantasma": o distanciamento existente entre os estudiosos da Torá e os judeus mais simples, os chamados iletrados. A lacuna entre essas classes de judeus era enorme. Na época, era comum a ida de "pregadores" - os Maguidim, às sinagogas para admoestar o povo por suas ações, somando ainda mais sofrimento e culpa.
O Chassidismo, inicialmente na figura de Baal Shem Tov e do grupo dos Tzadikim Nistarim (justos ocultos), vieram para quebrar este paradigma e muitos outros. Elevar o status do considerado judeu "simples", às vezes, confundido com o "sem valor". Dar-lhes autoestima. Fazê-los acreditar que também eram queridos aos Olhos de D-us.
Mas o Chassidismo foi muito além. É verdade que o trabalho era focado nos menos favorecidos e nos iletrados, porém, como sua filosofia atendia, também, às expectativas dos estudiosos da Torá, dando-lhes uma nova perspectiva sobre D-us, o mundo, o ser humano e as mitzvot (mandamentos divinos), muitos eruditos passaram a integrar o movimento. Logo, o movimento chassídico cresceu e espalhou-se por toda a Europa.
Para todos, o Chassidismo era uma filosofia de vida e a própria vida, entrelaçadas. Cada judeu "pegou" aquilo de que ele precisava para crescer espiritualmente e não se deixar abater pelo desespero em virtude das grandes dificuldades materiais.
CHASSID(IM)
Chassid (Chassidim, no plural), em Hebraico, pio e observante, é o termo aplicado ao adepto do movimento, que surgiu no século 18 denominado de Chassidut ou Chassidismo.
BAAL SHEM TOV (1698 - 1760)
Filho único de pais de idade avançada, o pequeno Israel ficou cedo órfão de pai e mãe. Seu pai, o grande tzadik Rebe Eliezer, antes de morrer, deixou-lhe os seguintes ensinamentos, que serviram de linhas mestras ao longo de sua vida. Um, se referia ao temor e, o outro, sobre o amor.
Sobre o temor, ele ensinou ao filho, o temor a D-us:"Não tema a ninguém, só a D-us Todo Poderoso!". Com relação ao amor, Rabi Eliezer ensinou que este deve ser praticado e disseminado a todos os judeus, indiscriminadamente, não importa onde estejam e em que nível se encontrem. Ele ensinou: "Ame a cada judeu de todo coração e de toda a sua alma!".
Com a morte dos pais, a comunidade judaica assumiu as despesas e a responsabilidade com a educação de Israel.
Israel gostava de isolar-se pelas florestas e campos, onde, em contato com a natureza, estreitava sua relação com D-us, Criador dos céus e da terra. A princípio, este comportamento causou estranheza, mas, com o passar do tempo, os líderes da comunidade acabaram "desistindo" de mudá-lo. Foi numa dessas "idas" à floresta, que encontrou um judeu profundamente concentrado na tefilá.
Atraído pelas doces melodias e pela Kavaná (literalmente, intenção; num sentido mais profundo e contextualizado, significa que ele rezava com diligência, colocando todo o seu coração e alma, em cada palavra da tefilá), o jovem rapaz passou a frequentar a floresta diariamente, para estudar Torá com o "estranho".
Muito tempo depois, esse homem foi relacionado ao grupo de Tzadikim Nistarim (justos ocultos), judeus que se passavam por pessoas simples e eram grandes eruditos da Torá.
Depois, o acompanhou, viajando de cidade em cidade, ensinando Torá e motivando os judeus a seguirem em frente, apesar da situação de escuridão e de tristeza vivida na época. Nessas viagens, Israel Ben Eliezer trabalhou como assistentes de Cheder (escola de meninos), cuja função era a de buscar e levar as crianças da casa para a escola. No trajeto, contava histórias judaicas para despertar no coração das crianças o amor a D-us e Sua Torá.
Ainda jovem, juntou-se ao grupo de Tzadikim Nistarim, discípulos de Rabi Adam Baal Shem (1680 - 1734). Os ensinamentos obtidos de seu mestre alicerçaram o que futuramente seria chamado de Chassidismo. O Baal Shem Tov herdou vários manuscritos cabalísticos do Rabi Adam Baal Shem.
Israel Ben Eliezer foi casado por duas vezes. Sua primeira esposa morreu logo após o casamento. Com a segunda esposa, Chana, irmã do grande erudito da Torá, Rabi Avraham Guershon Kitover (Polônia), teve dois filhos, Odl e Tzvi Hersch.
Passou longos dez anos de sua vida em reclusão e, segundo contam, recebeu instruções diretamente de Achiá, de Shiló (Hashiloni), profeta da época do Rei David, que aparecia-lhe periodicamente. Em carta enviada a seu aluno Iaakov Iossef Hacohen, ele escreve que as aparições do referido profeta começaram no dia de seu aniversário de 26 anos, no meio da noite, na cidade de Akop.
Somente um justo, da estatura do grande Israel Ben Eliezer, seria merecedor de tal aparição e de receber tais ensinamentos sagrados e esotéricos.
Aos 36 anos, estabeleceu-se em Mezibuz (oeste da Ucrânia) e passou a difundir publicamente a Chassidut, atraíndo discípulos e simpatizantes do movimento. Recebia diariamente a visita de judeus de todas as partes do mundo, que vinham aprender de seus ensinamentos. Foi aí que passou a ser conhecido como Baal Shem, fazedor de milagres e revelador de conhecimentos profundos da Torá.
No dia 6 de Sivan (1º dia de Shavuot), aos 62 anos, Israel Ben Eliezer faleceu, deixando um legado de ensinamentos e grandes histórias, ainda hoje narradas e que inspiram milhares de judeus. No mundo judaico ficou conhecido como Baal Shem Tov, o Mestre do Bom Nome.
O Baal Shem Tov não deixou nenhuma obra escrita, mas seus ensinamentos e feitos foram registrados por seus discípulos, em obras e coletâneas, dentre elas, o livro Keter Shem Tov, publicado em 1794, mais de trinta anos após a morte do grande mestre.
ALGUNS ENSINAMENTOS DO BAAL SHEM TOV
Todas as criaturas são governadas pela Hashgachá Pratit, a Divina Providência. Mesmo uma simples folha derrubada pela brisa, só cai da árvore porque assim foi determinado pelo Criador, para um fim específico (existe intencionalidade nos acontecimentos). Assim, todos os eventos que acontecem no mundo têm um propósito determinado pelo Criador.
Outro ensinamento do mestre chassídico diz respeito à renovação da Criação com a fala, processo este constante, exatamente como aconteceu nos seis dias da Criação, quando o mundo foi criado com os dez ditos, conforme está escrito no livro de Tehilim, os Salmos de David, no capítulo 119:89: "E permanente é Sua palavra, que ecoa nos céus".
Diferente de qualquer criação humana, que, ao ser completada, o autor se afasta da obra. Como por exemplo: uma pintura, que, ao ser finalizada, existe independente de seu criador (no caso, o pintor). As obras divinas continuam a se sustentar e a existir tão somente por essas 10 falas, repetidas constantemente pelo Criador. Sem elas, essas criações voltariam ao estado inicial antes de serem criadas.
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Devido à riqueza de aprendizado do grande mestre chassídico, Baal Shem Tov, deixaremos para falar do Rabi Shneur Zalman de Liadi, nascido também em 18 de Elul de 1773, no próximo post.
Espero que tenham gostado!
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Até lá!
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