A verdade é que não nos cabe julgar!
Eu também tenho as minhas perguntas e não acredito que haja respostas satisfatórias para a maior parte delas. No meu modo de ver, a grande pergunta não deveria ser "onde estava D-us que permitiu tamanha bestialidade?", mas sim, "onde estava o homem?".
Esta pergunta é universal e independe do grau de religiosidade ou, falta de, de cada um.
Cabe a cada um de nós conhecer e transmitir às próximas gerações.
Com este breve comentário, introduzo o post desta semana que falará sobre a Kristallnacht - a Noite dos Vidros Quebrados (ou Estilhaçados), que, na opinião de grandes historiadores, se constituiu em um divisor de águas e um "disparador" para a "oficialização" das perseguições antissemitas perpetradas pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.
Lizkor velo lishkoach - Lembrar e não esquecer!
CRONOLOGIA DO HOLOCAUSTO
A vida dos judeus na Europa nunca foi tão fácil. Desde que chegaram ao continente europeu, com o exílio romano, em 70 EC (da Era Comum), enfrentaram a rejeição e a expulsão; viveram apartados em guetos e bairros judaicos; foram alijados do mercado de trabalho e proibidos de exercer algumas profissões; sobreviveram aos cruzados e pogroms; conversão forçada, Inquisição e libelos de sangue. Comunidades inteiras foram varridas do mapa.
Partindo do século 20, assinalamos os fatos mais marcantes dessa trajetória.
ASCENSÃO DO NAZISMO (1933 - 1938)
Cena do documentário da cineasta alemã Leni Riefenstahl.
Multidão aclamando Hitler no Congresso de Nuremberg.
Um outro agravante: Hitler culpava os judeus pela grande derrota e pela humilhação sofrida pela Alemanha, na Primeira Grande Guerra (1914 - 1918). Mesmo que os judeus tenham lutado lado a lado na guerra, foram condecorados por bravura e morreram como patriotas alemães. Mesmo que depois da guerra, se esforçaram pela reconstrução do Estado alemão, eles foram estigmatizados e vítimas das crescentes ondas de antissemitismo que assolaram o país.
Hitler subiu ao poder com o discurso nacionalista que pregava a reconstrução e o restabelecimento da dignidade alemã. Pelos planos dele, isso envolvia a criação da Grande Alemanha, com a devolução das colônias alemãs perdidas pela Alemanha após a derrota na Guerra.
Aproveitando-se de uma manobra política, Hitler foi rapidamente ganhando espaço em busca da solidificação de sua ditadura. Expropriou todos os prédios do Partido Comunista. Fechou organizações pacifistas. Todos os que eram considerados inimigos do regime foram presos e torturados (muitas vezes até a morte). A propaganda antijudaica era muito forte em toda a Alemanha.
Já em 22 de Março, quase dois meses depois de assumir a chancelaria, deu-se a construção do primeiro campo de concentração (Dachau), administrado pelo violento pelotão da SA (inicialmente a força paramilitar nazista era chamada de "Sturmabteilung" ou "Divisões de Assalto"). Em 1º de Abril veio o boicote aos negócios e a lojas de judeus. Uma semana depois, foi a vez do decreto de afastamento dos judeus do funcionalismo público, do exército e das universidades. Enquanto isso, o terror imperava nas ruas.
Os judeus assistiam impotentes a tudo isso. Não podiam acreditar que, após séculos de permanência, de integração à sociedade alemã e de importantes contribuições às ciências, à medicina, às artes em geral e às indústrias alemãs, estivessem sendo escanteados de maneira vil e desleal. Dezenas de milhares de judeus deixaram a Alemanha. Com o escasseamento dos vistos de saída, logo o fluxo de emigração diminuiu, haja vista a dificuldade e a disposição dos países em receber os imigrantes judeus fugidos da guerra.
Nesse "meio tempo", Hitler escreveu o livro "Mein Kampf", volume I (1924) e volume II (1926), onde destilou o veneno antijudaico.
Em 2 de Agosto de 1934, com a morte de Alfred Hinderburg, Hitler se proclamou Führer (líder) e Reichskanzler (chanceler) da Alemanha. Com isso, a máquina militar passou a servi-lo com lealdade e obediência. Vieram as leis raciais de Nuremberg (1935), quando os judeus deixaram de ser cidadãos alemães e foram proibidos de casar com arianos.
Em 17 de Junho de 1937, mais outro golpe: a nomeação como chefe da polícia alemã do sanguinário Heinrich Himmler, idealizador dos Campos de Concentração Nazistas, responsáveis pela eliminação de dois terços dos judeus da Europa. A solução final de extermínio dos judeus estava ganhando forma.
Em 1938, a Alemanha anexou a Áustria e todos os decretos antissemitas passaram a vigorar também naquele país. Entendendo a urgência dos judeus de deixarem a Alemanha Nazista, o Presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, convocou uma conferência, que teve lugar em Évian-les-Bains (França), em 6 de Julho de 1938. Trinta e dois países estavam representados na reunião. Infelizmente, e apesar dos grandes discursos, o encontro não foi bem sucedido, pois a maioria dos países demonstrou falta de vontade para receber os novos imigrantes judeus. Para Hitler, a atitude dos países validou sua política racial contra os judeus.
Em 28 de Outubro, dezessete mil judeus poloneses, que viviam na Alemanha, foram expulsos e exilados na Polônia, com o seguinte agravante: foram rejeitados também na Polônia.
A KRISTALLNACHT - A NOITE DOS VIDROS QUEBRADOS
Durante os cinco primeiros anos no poder, os nazistas conseguiram transformar em miserável a vida dos judeus. Mas a ferocidade da perseguição pré-guerra atingiu seu ápice no episódio que ficou conhecido como Kristallnacht - A Noite dos Vidros Quebrados, em alemão, Novemberpogrom (o pogrom de novembro), um grande pogrom orquestrado nos bastidores pelo ministro da propaganda Nazista Joseph Goebbels, anos antes de acontecer na prática.
Abrindo um parêntese, neste espaço chamaremos a Kristallnacht, de Noite dos Vidros Quebrados, porque sua tradução literal, a Noite dos Cristais é, ao meu ver, bem preconceituosa, pois remete à ideia de riqueza dos judeus. Já que os ricos, supostamente, têm cristais.
Voltando ao assunto! Nos bastidores, sim!
O tratamento dispensado a seus familiares na Alemanha (lembrem que os judeus poloneses foram expulsos da Alemanha) motivou o jovem judeu Herschel Gryspan a entrar na embaixada alemã, em Paris, e assassinar a tiros um oficial Nazista do segundo escalão.
Os alemães precisaram somente de um pretexto para retaliar e desencadear uma ação antissemita nacional, sem precedentes. O assassinato em Paris serviu perfeitamente para esse propósito.
Organizado pelo Partido Nazista e bem orientado por Goebbels, o pogrom deveria parecer como uma revolta espontânea da população. Soldados da SA trocaram suas fardas por roupas civis e atacaram selvagemente seus objetivos: os judeus e suas propriedades.
SALDO NEGATIVO
Nas noites de 9 e 10 de Novembro de 1938, a Kristallnacht, deixou um prejuízo vultoso à população judaica, que teve 267 sinagogas e edifícios comunitários incendiados, propriedades particulares saqueadas e dezenas de milhares de estabelecimentos comerciais destruídos. Nessas ações, cerca de 30 mil judeus foram presos e enviados aos campos de concentração, algumas mulheres também foram confinadas nas prisões locais. Houve dezenas de óbitos.
A comunidade judaica recebeu uma pesada multa de 1 milhão de Reichmarks (cerca de U$ 400 mil dólares) pelos prejuízos causados pela Kristallnacht, pagos pelo confisco de 20% das propriedades de cada judeu alemão. Além do prejuízo material, os judeus foram obrigados a limpar toda a sujeira deixada pela destruição.
Após o pogrom, os judeus foram sistematicamente excluídos da vida pública. O mesmo se estendeu a crianças e aos adolescentes que, além de não poderem frequentar lugares públicos, foram expulsos de suas escolas.
O final dessa História, infelizmente, conhecemos: o assassinato de 6 milhões de judeus, dentre eles, 1,5 milhão de crianças. Que a lembrança desses inocentes seja abençoada.
FONTES
http://www.morasha.com.br/holocausto/relembrando-a-kristallnacht.html
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1348469/jewish/Kristallnacht.htm
https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/kristallnacht
GILBERT, Martin. O Holocausto. São Paulo: Editora Hucitec, 2010.