Assinala, também, o nascimento de outro grande mestre chassídico e fundador do movimento Chabad, braço do movimento chassídico mundial, Rabi Shneur Zalman, de Liadi, o Admor Hazaken, em 1745, em Liozna, cidade próxima a Lubavitch, na Rússia.
Estes dois acontecimentos, sem dúvida, determinaram o curso do Judaísmo, em suas respectivas épocas, já que a atuação destas personalidades foi de grande importância à continuidade e desenvolvimento do Judaísmo, na medida em que a filosofia chassídica buscava ajudar e fortalecer o alquebrado espírito dos judeus, também do ponto de vista material.
A influência do movimento chassídico ganhou tamanha proporção que perdura até os dias de hoje em todos os cantos do globo.
Examinemos alguns fatores históricos que antecederam o aparecimento do Chassidismo:
1. MASSACRES DE CHMIELNITZKI (1648 - 1649).
Também chamadas de Guezerot Tach Vetat, em alusão aos anos judaicos em que ocorreram (TACH - 5408 e TAT 5498), foi a denominação dada aos episódios de carnificina e massacres perpetrados contra os judeus e suas comunidades, na Polônia Oriental e na Ucrânia, em consequência da revolta liderada pelo cossaco Bogdan Chmielnicki (1595 - 1657).
Contra os judeus, sim! Pois, por trás do discurso de inquietação social e religiosa por parte dos rebeldes, havia a intenção firme de eliminar os "estranhos" judeus da região.
Vamos aos fatos!
Os rebeldes (camponeses e cossacos) lutaram contra o sistema de exploração da classe dominante polonesa, vigente na Ucrânia, que, a grosso modo, funcionava da seguinte maneira:
Como arrendatários, os judeus estavam à mercê das vontades e exigências dos grandes latifundiários. Quando estes queriam aumentar suas entradas, elevavam aleatoriamente os impostos e as taxas cobradas dos "inquilinos" judeus, o que refletia diretamente (e, negativamente) na relação dos judeus com os agricultores, já que também precisavam repassar os aumentos praticados nos preços dos produtos comercializados (vodka, trigo, etc) para suportar a carga das cotas exigidas pelos senhores feudais.
Como administradores, os judeus apareciam na linha de frente das decisões dos senhores feudais, sempre ausentes de seus feudos. Muitas dessas decisões causaram revolta e despertaram a ira dos camponeses. Os camponeses viam os judeus como os supervisores do trabalho e os responsabilizavam pela pressão recebida, pelos impostos cobrados, pela cobrança das dívidas, e até pelos castigos aplicados, mesmo que estes agiam em nome de seus patrões. Realmente, os judeus estavam em posição bastante desfavorável.
Como os judeus estavam mais próximos dos camponeses, ficaram vulneráveis e tornaram-se bodes expiatórios dos rebeldes cossacos.
Os massacres extrapolaram os limites da crueldade. Estima-se que mais de 100 mil judeus foram assassinados e 300 comunidades judaicas dizimadas. Na prática, este número representou cerca de 5% da população judaica mundial. Os sobreviventes vagaram sem destino de um lugar a outro, outros tantos foram vendidos como escravos no mercado de escravos do Império Otomano.
Apesar de ser considerado um herói nacional ucraniano, Chmielnicki é considerado um dos mais sinistros opressores do povo judeu. O líder rebelde foi apelidado pelos judeus de Chmiel, o cruel.
(Como foi citado acima, a revolta também teve um motivador religioso, haja vista que os camponeses pertenciam à Igreja Ortodoxa Grega e os senhores feudais, da Igreja Católica Romana. Os senhores feudais queriam impor aos camponeses suas doutrinas religiosas. A falta de liberdade religiosa, somada às grandes dificuldades e privasões passadas pelos camponeses desencadearam a revolta).
As Guezerot Tach Vetat serão tema de um outro post mais detalhado.
2. SHABTAI TZVI (1626 - 1676), O FALSO MESSIAS.
O sofrimento passado, logo após as Guezerot Tach Vetat reacendeu nos judeus suas aspirações e preces pela vinda do Messias (Mashiach). Os massacres foram considerados pelos eruditos e cabalistas judeus como as "dores do parto" para o aparecimento do tão esperado redentor. E, foi, neste terreno fértil, que impostores insurgiram se autoproclamando os salvadores do povo judeu.
Shabtai Tzvi foi o primeiro desta lista.
Nascido em Esmirna, na Turquia, em 1626, Shabtai Tzvi, ainda jovem destacou-se como um brilhante estudioso do Talmud e da Cabala. Ainda na infância, já demonstrava oscilações de humor (Talvez os psiquiatras e estudiosos da área o diagnosticassem com transtorno bipolar de humor). Frequentemente ouvia vozes que o anunciavam como o Goel - o Salvador (outra patologia!).
Imbuído desta certeza, começou a agir como se fosse o Messias, o que despertou muitas ressalvas dos rabinos de Esmirna, que imputaram-lhe um Rechem (excomunhão legal). Shabtai Tzvi deixou Esmirna, em 1654 e passou a visitar as comunidades judaicas do Mediterrânea, onde atraiu seguidores. Shabtai Tzvi estabeleceu residência em Salômnica (Grécia).
O carisma de Shabtai Tzvi não evitou que sua doença psicológica aparecesse em diversas ocasiões. Certa vez, convidou estudiosos da Torá para uma refeição e, lá, ergueu uma chupá (pálio nupcial), com um Sêfer Torá nas mãos, anunciou seu casamento com a Torá. O fato despertou a ira dos rabinos e ele teve que, mais vez, procurar outro destino para morar.
Shabtai Tzvi chegou em Jerusalém, onde mostrou sua grande sapiência nos assuntos da Torá. Em 1664, casou-se com a igualmente doente Sará, comparando-se com o profeta Hoshea (Oséias), que fora ordenado por D-us de realizar tal ato.
Ao voltar, ele passou pela casa do jovem e gênio da Torá, Natan, o Ashkenazí (Natan de Gaza). Shabtai Tzvi o convenceu de que era o Messias. Natan começou a serví-lo como o "profeta do Messias", cuja função era a de anunciar a chegada do Redentor de Israel.
A notícia da chegada do Messias espalhou-se imediatamente. Na Polônia, muitos judeus abandonaram suas casas e venderam suas posses, dedicando-se quase que exclusivamente ao estudo da Torá, Comunidades na Alemanha, na Holanda e no Iêmen, dentre outras, comemoraram a chegada do tão esperado redentor. A euforia era enorme!
Em 1666, quando Shabtai Tzvi chegou na capital do Império Otomano para tirar a coroa da cabeça do Sultão, foi preso. Lá, converteu-se ao Islamismo, adotando o nome de Aziz Mechmed Efendi. O falso Messias recebeu uma pensão do sultão até a sua morte, em 1676.
A conversão de Shabtai Tzvi foi catastrófica para os judeus. Uma das grandes consequências do fracasso de Shabtai Tzvi, na vida religiosa e, que, influenciou diretamente na formação de um movimento contrário ao Chassidismo, foi a proibição do estudo e difusão da Cabala.
ANTECIPANDO A CURA ANTES DE MESMO DE APARECER A DOENÇA
Como já falado anteriormente no post A importância da História Judaica: "A bem da verdade, a História Judaica desafia o curso natural da História do mundo, pois nenhum povo conseguiu permanecer sem perder sua vitalidade e seua identidade, mesmo sofrendo perseguições e exílios, como os judeus". Essa colocação pode ser ratificada, de certa forma, pela regra: "Hakadosh Baruch Hu makdim refuá lamaká" - D-us antecipa a cura, antes mesmo da doença aparecer. Ou seja, além da Hashgachá Pratit, da Providência Divina, que permeia os nossos eventos históricos, ainda há a preocupação de trazer a solução antes do problema.
Além de situar historicamente o leitor, toda esta "longa" introdução é para nos informar sobre a descida dos mundos espirituais dos ensinamentos do Chassidismo em geral e Chassidismo Chabad, em particular e de seus grande mestres, Rabi Israel Baal Shem Tov e o Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Alter Rebe, trazendo o bálsamo espiritual e material àqueles que mais precisaram. Assuntos do próximo post.
Espero que tenham gostado.
Até lá!
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