E, quando o espião é um ser humano (não um personagem da telinha), com família, amigos, sonhos e, que por uma razão ou outra escolhe este tipo de vida? Já pensaram sobre isso?
O post da semana é justamente sobre um espião de verdade. Seu nome? Eli Cohen.
Seu auto sacrifício e abnegação em prol do Estado de Israel salvou a vida de muitos judeus inocentes, livrou o país das incômodas ameaças de ataques vindos dos países árabes vizinhos.
Seu auto sacrifício e abnegação em prol do Estado de Israel salvou a vida de muitos judeus inocentes, livrou o país das incômodas ameaças de ataques vindos dos países árabes vizinhos.
O final de Eli Cohen não foi feliz. Nem para ele e nem muito menos para a sua família. Porém, como ele mesmo disse antes de ser enforcado em praça pública, em 18 de maio de 1965:
"Digam à minha família que cumpri com minha obrigação até o fim e continuei fiel à minha terra e a meu povo até meu último minuto de vida".
A VIDA DE ELI COHEN
Elyahu Ben-Shaul Cohen nasceu em Alexandria, no Egito, em 1924. Seus pais vieram de Alepo (Síria) e estabeleceram-se no Egito em 1914.
De família com raízes sionistas muito fortes, Eli, desde jovem esteve ligado ao movimento de retorno ao lar judaico. Cursou Engenharia, mas foi obrigado a abandonar a Universidade por conta das ondas de antissemitismo que se levantaram no Egito (e em todos os países árabes) com a criação do Estado de Israel. Eli continuou seus estudos em casa.
Apesar de que seu pai e três irmãos emigraram para Israel em 1949, aproveitando a onda de saída de judeus egípcios, Eli permaneceu no Egito para terminar a graduação e, paralelamente, continuar suas atividades com o movimento sionista, na época, ilegal.
Durante a década de 1950, dizem que Eli Cohen participou de várias missões militares secretas israelenses no Egito, dentre elas, da Operação Goshen, que contrabandeava judeus egípcios em situação de risco devido as crescentes ondas de antissemitismo para Israel e da Operação Susannah, a mal sucedida operação de sabotagem de instalações ocidentais no Egito, visando minar as relações do Egito com os países atingidos.
Eli Cohen foi, inclusive, detido para averiguações, por ocasião do desmantelamento da Operação Susannah, porém, o serviço de inteligência egípcio não conseguiu conectá-lo ao grupo.
Em 1955, Eli ausentou-se do Egito para um treinamento intensivo de espionagem em Israel. Na volta, ficou sob vigilância do serviço de inteligência egípcio.
Com a crise Canal de Suez (assunto para outro post), em 1956, Eli Cohen, juntamente com muitos judeus egípcios, tiveram que deixar o país. Com a ajuda da Agência Judaica, Eli chegou a Israel através da Itália, no final de 1956.
Em Israel, Eli trabalhou como analista da contra-inteligência para o Exército de Defesa de Israel (IDF). Eli não estava feliz com o trabalho. Ele queria uma missão com mais emoção. Procurou o Mossad, mas foi desqualificado para o trabalho.
Como Eli era fluente em vários idiomas e era dotado de uma memória fotográfica, o Mossad "guardou" o seu nome. Quem sabe num futuro pudesse ser aproveitado?
Em 1959, Eli casou-se com Nadia, uma judia iraquiana, com quem teve três filhos.
FINALMENTE, O MOSSAD
O Mossad, a agência de inteligência judaica, foi fundada em 13 de dezembro de 1949. Desde então, o Mossad e seus agentes estão envolvidos em incontáveis ações de espionagem e contra-espionagem dentro e fora do território israelense. Numa outra oportunidade falaremos sobre algumas intervenções conhecidas e bem sucedidas do Mossad, como o "sequestro" de Adolf Eichman, o arquiteto da Solução Final, ou do desmantelamento do Grupo Setembro Negro, que vitimou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique em 1973.
Voltando à história de Eli Cohen!
Quando o Mossad procurou um agente especial para se infiltrar dentro do governo sírio, em Damasco, o nome de Eli Cohen voltou à pauta.
Eli foi procurado pelo Mossad e ficou radiante com a possibilidade que se abrira à sua frente. Ser agente do Mossad era tudo o que ele queria na vida. Em 1960, Eli foi integrado ao Mossad.
O trabalho como espião na Síria demandava um treinamento meticuloso para tarefas que nem Eli sabia exatamente o que fazer. Por seis meses passou por treinamento voltado ao desenvolvimento de sua memória fotográfica. Depois, passou a conhecer as armas bélicas, as máquinas de guerra, aviões, etc. Eli foi preparado para rastrear um alvo, identificar se estava sendo seguido e a esquivar-se de seus perseguidores. Apesar de falar fluentemente árabe, fez treinamento intensivo para falar com acento sírio e a portar-se com tal. Finalmente, aprendeu a operar um pequeno rádio transmissor, meio pelo qual receberia instruções e passaria as informações para o lado israelense.
O TRABALHO NA SÍRIA
Com passaporte falso, em 1962, Eli entrou na Síria como Kamel Amin Thaabet, um empresário de sucesso que vivia na Argentina. Ele "encarnou" um sírio que queria voltar às suas origens. Eli escolheu viver no estratégico bairro classe A, onde se localizavam as embaixadas estrangeiras e as residências oficiais de líderes estrangeiros.
E foi daquela residência que saiu valiosas informações ao governo de Israel. Sempre cedo pela manhã ou à noite, Eli usava o rádio transmissor. Como a casa ficava perto de uma base militar do exército, esses sinais eram confundidos com os do exército sírio.
Em Damasco, Eli promovia festas com muita ostentação. Como parte do plano, a alta sociedade passou a frequentar sua casa. Eli começou então a escutar conversas entre autoridades sírias de alto escalão. Desta maneira, ganhou a confiança de todos, inclusive de Amin Al-Hafiz, que tornou-se presidente da Síria.
Eli alinhou-se com o partido Baath que preconizava a unificação dos países árabes. Em 1963, o partido organizou um golpe que levou Amin Al-Hafiz ao poder. Al-Hafiz considerou o amigo Thaabet para ser seu ministro de defesa.
Durante três anos, Eli transmitiu ao Mossad os planos sírios contra Israel, dentre eles, o de desviar a rota do rio Jordão do lago Kineret, principal fonte de abastecimento de água de Israel naquela época. A Síria queria deixar Israel sem água. Eli sinalizou onde exatamente estaria o equipamento responsável pelo desvio do rio, prontamente bombardeado pelo exército israelense.
COLINAS DO GOLAN
O espião mandou informações militares que seriam essenciais no futuro, sedimentando o trabalho de Eli Cohen como um dos principais fatores da vitória de Israel na Guerra dos Seis dias, em 1967.
Eli era capaz de olhar mapas de relance e depois redesenhá-los perfeitamente, inclusive mapas onde o exército sírio construía abrigos nas colinas do Golan. Fingindo preocupação com a qualidade de vida dos soldados, sugeriu plantar árvores ao longo dos bunkers para camuflá-los. O IDF usou essas árvores para identificar esses bunkers para direcionar seus ataques.
O GOVERNO SÍRIO COMEÇOU A DESCONFIAR DE KAMEL AMIN THAABET
Como as informações eram sigilosas, o governo sírio começou a desconfiar que estava sendo alvo de espionagem.
De 1962 a 1964, Eli voltou três vezes para visitar sua família em Israel. Durante sua última visita, Eli demonstrou preocupação com a nomeação do novo comandante do serviço de inteligência sírio, Ahmad Al-Suweidani. Chegou a pedir que fosse afastado dessa missão porém, foi convencido a voltar uma última vez.
Em 1965 foi imposto um "silêncio" nas transmissões de rádio, no sentido de descobrir quem era que estava passando informações confidenciais para o "outro lado". Exceto as transmissões de Eli Cohen, todas as transmissões militares sírias obedeceram à ordem.
Não restou dúvidas, o espião era Kamel Amin Thaabet. Quatro oficiais invadiram a casa de Kamel e o pegaram mandando informações para Israel de seu rádio transmissor.
Apesar dos esforços internacionais para libertá-lo, Eli foi preso, torturado e condenado à forca. Antes de morrer deixou uma carta de despedida à sua família, com o rabino da cidade, onde pedia para que não se enlutassem pelo passado e olhassem para o futuro. No final, Eli pedia para a esposa rezar por sua alma.
Eli foi enforcado em praça pública, em 18 de Maio de 1965. Seu corpo nunca foi devolvido à família para um digno enterro judaico.
MEMORIAL ELI COHEN NA TRILHA DAS COLINAS DO GOLAN
A VIDA DE ELI COHEN VIROU MINI-SÉRIE NA NETFLIX: O ESPIÃO
Apesar de que seu pai e três irmãos emigraram para Israel em 1949, aproveitando a onda de saída de judeus egípcios, Eli permaneceu no Egito para terminar a graduação e, paralelamente, continuar suas atividades com o movimento sionista, na época, ilegal.
Durante a década de 1950, dizem que Eli Cohen participou de várias missões militares secretas israelenses no Egito, dentre elas, da Operação Goshen, que contrabandeava judeus egípcios em situação de risco devido as crescentes ondas de antissemitismo para Israel e da Operação Susannah, a mal sucedida operação de sabotagem de instalações ocidentais no Egito, visando minar as relações do Egito com os países atingidos.
Eli Cohen foi, inclusive, detido para averiguações, por ocasião do desmantelamento da Operação Susannah, porém, o serviço de inteligência egípcio não conseguiu conectá-lo ao grupo.
Em 1955, Eli ausentou-se do Egito para um treinamento intensivo de espionagem em Israel. Na volta, ficou sob vigilância do serviço de inteligência egípcio.
Com a crise Canal de Suez (assunto para outro post), em 1956, Eli Cohen, juntamente com muitos judeus egípcios, tiveram que deixar o país. Com a ajuda da Agência Judaica, Eli chegou a Israel através da Itália, no final de 1956.
Em Israel, Eli trabalhou como analista da contra-inteligência para o Exército de Defesa de Israel (IDF). Eli não estava feliz com o trabalho. Ele queria uma missão com mais emoção. Procurou o Mossad, mas foi desqualificado para o trabalho.
Como Eli era fluente em vários idiomas e era dotado de uma memória fotográfica, o Mossad "guardou" o seu nome. Quem sabe num futuro pudesse ser aproveitado?
Em 1959, Eli casou-se com Nadia, uma judia iraquiana, com quem teve três filhos.
FINALMENTE, O MOSSAD
O Mossad, a agência de inteligência judaica, foi fundada em 13 de dezembro de 1949. Desde então, o Mossad e seus agentes estão envolvidos em incontáveis ações de espionagem e contra-espionagem dentro e fora do território israelense. Numa outra oportunidade falaremos sobre algumas intervenções conhecidas e bem sucedidas do Mossad, como o "sequestro" de Adolf Eichman, o arquiteto da Solução Final, ou do desmantelamento do Grupo Setembro Negro, que vitimou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique em 1973.
Voltando à história de Eli Cohen!
Quando o Mossad procurou um agente especial para se infiltrar dentro do governo sírio, em Damasco, o nome de Eli Cohen voltou à pauta.
Eli foi procurado pelo Mossad e ficou radiante com a possibilidade que se abrira à sua frente. Ser agente do Mossad era tudo o que ele queria na vida. Em 1960, Eli foi integrado ao Mossad.
O trabalho como espião na Síria demandava um treinamento meticuloso para tarefas que nem Eli sabia exatamente o que fazer. Por seis meses passou por treinamento voltado ao desenvolvimento de sua memória fotográfica. Depois, passou a conhecer as armas bélicas, as máquinas de guerra, aviões, etc. Eli foi preparado para rastrear um alvo, identificar se estava sendo seguido e a esquivar-se de seus perseguidores. Apesar de falar fluentemente árabe, fez treinamento intensivo para falar com acento sírio e a portar-se com tal. Finalmente, aprendeu a operar um pequeno rádio transmissor, meio pelo qual receberia instruções e passaria as informações para o lado israelense.
O TRABALHO NA SÍRIA
Damasco: O ponto A marca a residência de Eli Cohen,
enquanto o ponto B, o quartel general do exército sírio.
Com passaporte falso, em 1962, Eli entrou na Síria como Kamel Amin Thaabet, um empresário de sucesso que vivia na Argentina. Ele "encarnou" um sírio que queria voltar às suas origens. Eli escolheu viver no estratégico bairro classe A, onde se localizavam as embaixadas estrangeiras e as residências oficiais de líderes estrangeiros.
E foi daquela residência que saiu valiosas informações ao governo de Israel. Sempre cedo pela manhã ou à noite, Eli usava o rádio transmissor. Como a casa ficava perto de uma base militar do exército, esses sinais eram confundidos com os do exército sírio.
Em Damasco, Eli promovia festas com muita ostentação. Como parte do plano, a alta sociedade passou a frequentar sua casa. Eli começou então a escutar conversas entre autoridades sírias de alto escalão. Desta maneira, ganhou a confiança de todos, inclusive de Amin Al-Hafiz, que tornou-se presidente da Síria.
Eli alinhou-se com o partido Baath que preconizava a unificação dos países árabes. Em 1963, o partido organizou um golpe que levou Amin Al-Hafiz ao poder. Al-Hafiz considerou o amigo Thaabet para ser seu ministro de defesa.
Durante três anos, Eli transmitiu ao Mossad os planos sírios contra Israel, dentre eles, o de desviar a rota do rio Jordão do lago Kineret, principal fonte de abastecimento de água de Israel naquela época. A Síria queria deixar Israel sem água. Eli sinalizou onde exatamente estaria o equipamento responsável pelo desvio do rio, prontamente bombardeado pelo exército israelense.
COLINAS DO GOLAN
O espião mandou informações militares que seriam essenciais no futuro, sedimentando o trabalho de Eli Cohen como um dos principais fatores da vitória de Israel na Guerra dos Seis dias, em 1967.
Eli era capaz de olhar mapas de relance e depois redesenhá-los perfeitamente, inclusive mapas onde o exército sírio construía abrigos nas colinas do Golan. Fingindo preocupação com a qualidade de vida dos soldados, sugeriu plantar árvores ao longo dos bunkers para camuflá-los. O IDF usou essas árvores para identificar esses bunkers para direcionar seus ataques.
O GOVERNO SÍRIO COMEÇOU A DESCONFIAR DE KAMEL AMIN THAABET
Edição do jornal israelense Maariv, divulgando a notícia
do enforcamente de Eli Cohen, em 1965
Como as informações eram sigilosas, o governo sírio começou a desconfiar que estava sendo alvo de espionagem.
De 1962 a 1964, Eli voltou três vezes para visitar sua família em Israel. Durante sua última visita, Eli demonstrou preocupação com a nomeação do novo comandante do serviço de inteligência sírio, Ahmad Al-Suweidani. Chegou a pedir que fosse afastado dessa missão porém, foi convencido a voltar uma última vez.
Em 1965 foi imposto um "silêncio" nas transmissões de rádio, no sentido de descobrir quem era que estava passando informações confidenciais para o "outro lado". Exceto as transmissões de Eli Cohen, todas as transmissões militares sírias obedeceram à ordem.
Não restou dúvidas, o espião era Kamel Amin Thaabet. Quatro oficiais invadiram a casa de Kamel e o pegaram mandando informações para Israel de seu rádio transmissor.
Apesar dos esforços internacionais para libertá-lo, Eli foi preso, torturado e condenado à forca. Antes de morrer deixou uma carta de despedida à sua família, com o rabino da cidade, onde pedia para que não se enlutassem pelo passado e olhassem para o futuro. No final, Eli pedia para a esposa rezar por sua alma.
Eli foi enforcado em praça pública, em 18 de Maio de 1965. Seu corpo nunca foi devolvido à família para um digno enterro judaico.
MEMORIAL ELI COHEN NA TRILHA DAS COLINAS DO GOLAN
A VIDA DE ELI COHEN VIROU MINI-SÉRIE NA NETFLIX: O ESPIÃO
trabalha nas sombras e não revela o que faz nem para sua família próxima. movido por um ideal, abnegado em cumprir seu dever, quando poderia ter outras alternativas e escolhas de vida "mais comuns"?
A história de Eli Cohen (talvez) não ganhe um Oscar. Nem precisa. Pois, com certeza, ele está repousando junto com os justos que morreram em Kidush Hashem em prol do povo judeu e da sobrevivência judaica no Estado de Israel.
Que história!Não consegui parar de ler!Mto envolvente.
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