Escultura de Shimshon em Ashdod, Israel
Dando continuidade ao tema dos Shoftim - os Juízes (vide post sobre Guidon Ben Yoash), este post traz a história da controversa personalidade de Shimshon. Ao contrário do que muitos pensam, ele não foi um super herói do tipo que vemos nos quadrinhos, na TV ou no cinema. Mas, no seu tempo, com sua força excepcional e coragem, salvou do infortúnio a vida do povo de Israel subjugado por quarenta anos, pelos arqui-inimigos, os filisteus.
Antes de tratarmos sobre a vida de Shimshon, precisamos consultar a Torá para conhecer o conceito de Nazir (Nazireu ou Nazirita) e como funcionava na prática. O motivo? Shimshon era um Nazir. Um ponto bem importante: o Nazirato faz parte dos 613 mitzvot da Torá e compreende 2 mitzvot afirmativas e 8 proibitivas. Para os mais curiosos, existe uma seção inteira na Torá que fala sobre o tema no livro de Bamidbar (6:1-21). Aqui um pequeno resumo das leis de Nazirato:
Nazir significa apartado, já que em essência ele estava afastado dos prazeres mundanos. O Nazir não podia beber vinho e nem cortar os cabelos. Foi o caso de Shimshon, que foi santificado ainda quando estava na barriga de sua mãe, como veremos mais abaixo.
A palavra Nazir também deriva de "Nezer" - "Coroa". "Uma vez que a coroa de seu D-us está sobre sua cabeça" (Bamidbar 6:8) era proibido ter proximidade com mortos. A proibição vogava, inclusive, para os parentes muito próximos.
Um ponto bem interessante e importante, válido para todas as histórias do Tanach. Como tratam da histórias de vida de seres humanos, os fatos relatados estão bem próximos da realidade de qualquer pessoa. Fraquezas, vitórias, derrotas, falhas, acertos, castigos e recompensas. Sem filtros ou enfeites. Todos os assuntos são abordados sem meias palavras. Como alguém certa vez me comentou que no Tanach nada vai para "baixo do tapete"!
OS FILISTEUS
O povo de Israel mais uma vez caiu espiritualmente, afastando-se da Torá e de D-us. Como era recorrente no Período dos Shoftim, após um período de paz e tranquilidade, os israelitas afastavam-se dos preceitos da Torá e das crenças monoteístas, adotando práticas idólatras. Foi quando ergueu-se contra eles um poderoso inimigo do sudoeste.
Subjugado, o povo de Israel sofreu com a amarga opressão dos filisteus. Pesados impostos e escravidão foram-lhe infligidos. Pela proximidade do inimigo, a tribo de Dan foi muito atingida (vide mapa abaixo). O povo começou a clamar por um redentor.
SHIMSHON
TRIBO DE DAN
FILISTEIA
PS: não consegui um mapa em português.
Na tribo de Dan vivia um casal sem filhos, Manoach e Tzlelponit. A mulher era também conhecida por sua retidão de caráter (o Tanach refere-se a ela não pelo nome mas, como "a esposa de Manoach", por sua humildade).
Um anjo de D-us apareceu para Tzlelponit e prometeu-lhe um filho que salvaria o povo de Israel das mãos dos filisteus. A criança deveria ser um Nazir. O anjo a instruiu que desde a gestação, ela deveria abster-se de vinho. Shimshon já nasceu Nazir.
Desde criança, o menino demonstrava uma força extraordinária. Shimshon era dotado de uma farta cabeleira, afinal, ele era um nazir. O Tanach relata que ao "descer" à cidade de Timná, Shimshon encantou-se por uma jovem filisteia, para desagrado de seus pais e quis desposá-la. Como podia juntar-se a uma idólatra? Shimshon achava que a proximidade dos inimigos o faria conhecer seus pontos fracos. Mais fácil seria prejudicá-los.
No casamento, 30 rapazes acompanharam o noivo. Conforme o costume dos casamentos da época, Shimshon apresentou-lhes uma charada para ser resolvida até o final dos sete dias festivos após o casório. Caso fossem bem sucedidos receberiam 30 lençóis e 30 mudas de roupas. Caso contrário, Shimshon receberia o prêmio. O enigma era: "Do comedor saiu a comida e do forte saiu a doçura".
Como não conseguiram decifrar a charada, no sétimo dia vieram até a esposa de Shimshon para pedir que obtivesse de seu esposo a resposta. A mulher foi chantageada, sob pena de morrer queimada numa fogueira, ela e sua família. A mulher insistiu até que Shimshon revelou a resposta para ela.
Aqui, abro um parênteses para levantar o seguinte questionamento: Já que Shimshon era conhecido por sua bravura (o Tanach descreve algumas passagens onde Shimshon mostrou extrema coragem, inclusive uma, antes de seu casamento, na qual ele enfrentou e matou um leão). Como Shimshon não conseguiu "vencer" a insistência da esposa?
Ao final do prazo, os rapazes vieram e trouxeram a solução a Shimshon: "O que é mais doce que o mel e mais forte que o leão!". Shimshon fora traído pela esposa! Pagou o combinado mas, decepcionado, abandonou a noiva e foi recolher-se na casa de seus pais. A mulher de Shimshon foi entregue a outro homem pelo pai.
Ao voltar para buscar sua esposa, Shimshon soube do fato. Muito aborrecido fez queimar os campos dos filisteus. Em represália, os filisteus subiram e queimaram a jovem e seu pai. Shimshon prometeu vingança e fez queimar os campos dos filisteus.
Com guerra estava declarada, um poderoso exército filisteu seguiu em direção a Yehudá. Eles queriam Shimshon vivo. Os homens de Yehudá desceram até o lugar onde ele estava e o confrontaram. O moço entregou-se pacificamente para não prejudicar seu povo.
Os filisteus festejaram a chegada do prisioneiro. Shimshon arrebentou as cordas que o amarravam e atacou os inimigos.
DELILÁ (DALILA): A DERROCADA
Após inúmeras derrotas, os filisteus concluíram que seria impossível capturar Shimshon de uma forma natural. Eles elaboraram um plano e contaram com a ajuda de Delilá, a nova escolhida de Shimshon, para que ela o fizesse revelar o segredo de sua força. Caso fosse bem sucedida, recebia uma gorda recompensa. Após três pistas falsas, finalmente Shimshon contou para ela seu segredo: seus cabelos nunca tinham sido cortados, conforme D-us tinha ordenado!
Delilá cortou seus cabelos. Sem a proteção de D-us, Shimshon virou uma presa fácil para os filisteus. Eles o prenderam, arrancaram seus olhos e o torturaram.
Nossos sábios dizem que o grande erro de Shimshon foi ser levado por "seus olhos". O Tanach enfatiza este fato em algumas passagens da história de Shimshon, e que por isso, os filisteus o cegaram.
TESHUVÁ: A TEFILÁ DE SHIMSHON
Os filisteus prepararam uma festa para sua idolatria, comemorando a grande vitória sobre o D-us de Israel e o aprisionamento de Shimshon. No período em que se encontrava preso, os cabelos de Shimshon começaram a crescer e, graças à teshuvá (arrependimento) sua força foi se restabelecendo.
Todos os importantes de Filisteia estavam presentes na celebração. Trouxeram Shimshon para "brincar" diante deles. Shimshon foi amarrado entre duas colunas.
Shimshon rezou para que D-us devolvesse a força só daquela vez para vingar-se por lhe tirado sua visão. Shimshon abraçou as duas colunas centrais que sustentavam o local e disse: "Que eu morra com os filisteus!". A casa desabou matando todos os que estavam lá.
Shimshon foi enterrado entre Tzorá e Eshtaol, na sepultura de seu pai, Manoach (foto abaixo).
O QUE DIFERENCIAVA SHIMSHON DOS OUTROS SHOFTIM (JUÍZES)
1. Shimshon foi o único que já nasceu destinado a ser Shofet.
2. Shimshon nasceu Nazir. Sua mãe inclusive absteve-se de vinho desde que engravidou dele.
3. Shimshon não liderou a maioria do povo e, muito menos, comandou um grande exército. Ele guerreou sozinho contra o inimigo.
4. Shimshon foi o único que foi preso pelos inimigos e morreu prisioneiro.
5. Todas os embates contra os filisteus nos vinte anos que Shimshon atuou como Shofet estão relacionadas com as esposas dele.
6. Shimshon enfraqueceu os inimigos, mas não os venceu. Somente no período do rei David é que os filisteus foram vencidos.
7. A influência direta do espírito de D-us esteve mais realçado em Shimshon do que nos outros Shoftim.
Espero que tenham gostado.
Até o próximo post!!!
BIBLIOGRAFIA
TANACH, LIVRO DE SHOFTIM
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