quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

ELI COHEN

Os filmes sobre espiões e espionagem sempre são eletrizantes e cheios de emoção. Atores e atrizes que viveram os espiões/as espiãs mais conhecidos até viraram celebridades. Quem não lembra de Sean Connery e Roger Moore, nos legendários papéis da saga do 007? Ou da atriz feminina Anne Parillaud, vivendo Nikita em Nikita: criada para matar. Babado, né?

E, quando o espião é um ser humano (não um personagem da telinha), com família, amigos, sonhos e, que por uma razão ou outra escolhe este tipo de vida? Já pensaram sobre isso?

Resultado de imagem para monumento eli cohenO post da semana é justamente sobre um espião de verdade. Seu nome? Eli Cohen. 

Seu auto sacrifício  e abnegação em prol do Estado de Israel salvou a vida de muitos judeus inocentes, livrou o país das incômodas ameaças de ataques vindos dos países árabes vizinhos.

O final de Eli Cohen não foi feliz. Nem para ele e nem muito menos para a sua família. Porém, como ele mesmo disse antes de ser enforcado em praça pública, em 18 de maio de 1965:

"Digam à minha família que cumpri com minha obrigação até o fim e continuei fiel à minha terra e a meu povo até meu último minuto de vida".

A VIDA DE ELI COHEN

Elyahu Ben-Shaul Cohen nasceu em Alexandria, no Egito, em 1924.  Seus pais vieram de Alepo (Síria) e estabeleceram-se no Egito em 1914.

De família com raízes sionistas muito fortes, Eli, desde jovem esteve ligado ao movimento de retorno ao lar judaico. Cursou Engenharia, mas foi obrigado a abandonar a Universidade por conta das ondas de antissemitismo que se levantaram no Egito (e em todos os países árabes) com a criação do Estado de Israel. Eli continuou seus estudos em casa.

Apesar de que seu pai e três irmãos emigraram para Israel em 1949, aproveitando a onda de saída de judeus egípcios, Eli permaneceu no Egito para terminar a graduação e, paralelamente, continuar suas atividades com o movimento sionista, na época, ilegal.

Durante a década de 1950, dizem que Eli Cohen participou de várias missões militares secretas israelenses no Egito, dentre elas, da Operação Goshen, que contrabandeava judeus egípcios em situação de risco devido as crescentes ondas de antissemitismo para Israel e da Operação Susannah, a mal sucedida operação de sabotagem de instalações ocidentais no Egito, visando minar as relações do Egito com os países atingidos. 

Eli Cohen foi, inclusive, detido para averiguações, por ocasião do desmantelamento da Operação Susannah, porém, o serviço de inteligência egípcio não conseguiu conectá-lo ao grupo. 

Em 1955, Eli ausentou-se do Egito para um treinamento intensivo de espionagem em Israel. Na volta, ficou sob vigilância do serviço de inteligência egípcio. 

Com a crise Canal de Suez (assunto para outro post), em 1956, Eli Cohen, juntamente com muitos judeus egípcios, tiveram que deixar o país. Com a ajuda da Agência Judaica, Eli chegou a Israel através da Itália, no final de 1956. 

Em Israel, Eli trabalhou como analista da contra-inteligência para o Exército de Defesa de Israel (IDF). Eli não estava feliz com o trabalho. Ele queria uma missão com mais emoção.  Procurou o Mossad, mas foi desqualificado para o trabalho. 

Como Eli era fluente em vários idiomas e era dotado de uma memória fotográfica, o Mossad "guardou" o seu nome. Quem sabe num futuro pudesse ser aproveitado?

Em 1959, Eli casou-se com Nadia, uma judia iraquiana, com quem teve três filhos.


FINALMENTE, O MOSSAD

O Mossad, a agência de inteligência judaica, foi fundada em 13 de dezembro de 1949. Desde então, o Mossad e seus agentes estão envolvidos em incontáveis ações de espionagem e contra-espionagem dentro e fora do território israelense. Numa outra oportunidade falaremos sobre algumas intervenções conhecidas e bem sucedidas do Mossad, como o "sequestro" de Adolf Eichman, o arquiteto da Solução Final, ou do desmantelamento do Grupo Setembro Negro, que vitimou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique em 1973.

Voltando à história de Eli Cohen!

Quando o Mossad procurou um agente especial para se infiltrar dentro do governo sírio, em Damasco, o nome de Eli Cohen voltou à pauta.

Eli foi procurado pelo Mossad e ficou radiante com a possibilidade que se abrira à sua frente. Ser agente do Mossad era tudo o que ele queria na vida. Em 1960, Eli foi integrado ao Mossad.

O trabalho como espião na Síria demandava um treinamento meticuloso para tarefas que nem Eli sabia exatamente o que fazer. Por seis meses passou por treinamento voltado ao desenvolvimento de sua memória fotográfica. Depois, passou a conhecer as armas bélicas, as máquinas de guerra, aviões, etc. Eli foi preparado para rastrear um alvo, identificar se estava sendo seguido e a esquivar-se de seus perseguidores. Apesar de falar fluentemente árabe, fez treinamento intensivo para falar com acento sírio e a portar-se com tal. Finalmente, aprendeu a operar um pequeno rádio transmissor, meio pelo qual receberia instruções e passaria as informações para o lado israelense.

O TRABALHO NA SÍRIA



Damasco: O ponto A marca a residência de Eli Cohen, 
enquanto o ponto B, o quartel general do exército sírio.
                           

Com passaporte falso, em 1962, Eli entrou na Síria como Kamel Amin Thaabet, um empresário de sucesso que vivia na Argentina. Ele "encarnou" um sírio que queria voltar às suas origens. Eli escolheu viver no estratégico bairro classe A, onde se localizavam as embaixadas estrangeiras e as residências oficiais de líderes estrangeiros. 

E foi daquela residência que saiu valiosas informações ao governo de Israel. Sempre cedo pela manhã ou à noite, Eli usava o rádio transmissor. Como a casa ficava perto de uma base militar do exército, esses sinais eram confundidos com os do exército sírio.

Em Damasco, Eli promovia festas com muita ostentação. Como parte do plano, a alta sociedade passou a frequentar sua casa. Eli começou então a escutar conversas entre autoridades sírias de alto escalão. Desta maneira, ganhou a confiança de todos, inclusive de Amin Al-Hafiz, que tornou-se presidente da Síria.

Eli alinhou-se com o partido Baath que preconizava a unificação dos países árabes. Em 1963, o partido organizou um golpe que levou Amin Al-Hafiz ao poder. Al-Hafiz considerou o amigo Thaabet para ser seu ministro de defesa.

Durante três anos, Eli transmitiu ao Mossad os planos sírios contra Israel, dentre eles, o de desviar a rota do rio Jordão do lago Kineret, principal fonte de abastecimento de água de Israel naquela época. A Síria queria deixar Israel sem água. Eli sinalizou onde exatamente estaria o equipamento responsável pelo desvio do rio, prontamente bombardeado pelo exército israelense. 

COLINAS DO GOLAN

O espião mandou informações militares que seriam essenciais no futuro, sedimentando o trabalho de Eli Cohen como um dos principais fatores da vitória de Israel na Guerra dos Seis dias, em 1967.

Eli era capaz de olhar mapas de relance e depois redesenhá-los perfeitamente, inclusive mapas onde o exército sírio construía abrigos nas colinas do Golan. Fingindo preocupação com a qualidade de vida dos soldados, sugeriu plantar árvores ao longo dos bunkers para camuflá-los. O IDF usou essas árvores para identificar esses bunkers para direcionar seus ataques.


O GOVERNO SÍRIO COMEÇOU A DESCONFIAR DE KAMEL AMIN THAABET



Edição do jornal israelense Maariv, divulgando a notícia 
do enforcamente de Eli Cohen, em 1965

Como as informações eram sigilosas, o governo sírio começou a desconfiar que estava sendo alvo de espionagem. 

De 1962 a 1964, Eli voltou três vezes para visitar sua família em Israel. Durante sua última visita, Eli demonstrou preocupação com a nomeação do novo comandante do serviço de inteligência sírio, Ahmad Al-Suweidani. Chegou a pedir que fosse afastado dessa missão porém, foi convencido a voltar uma última vez.

Em 1965 foi imposto um "silêncio" nas transmissões de rádio, no sentido de descobrir quem era que estava passando informações confidenciais para o "outro lado". Exceto as transmissões de Eli Cohen, todas as transmissões militares sírias obedeceram à ordem.

Não restou dúvidas, o espião era Kamel Amin Thaabet. Quatro oficiais invadiram a casa de Kamel e o pegaram mandando informações para Israel de seu rádio transmissor.

Apesar dos esforços internacionais para libertá-lo, Eli foi preso, torturado e condenado à forca. Antes de morrer deixou uma carta de despedida à sua família, com o rabino da cidade, onde pedia para que não se enlutassem pelo passado e olhassem para o futuro. No final, Eli pedia para a esposa rezar por sua alma.

Eli foi enforcado em praça pública, em 18 de Maio de 1965. Seu corpo nunca foi devolvido à família para um digno enterro judaico.


MEMORIAL ELI COHEN NA TRILHA DAS COLINAS DO GOLAN


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A VIDA DE ELI COHEN VIROU MINI-SÉRIE NA NETFLIX: O ESPIÃO






























 trabalha nas sombras e não revela o que faz nem para sua família próxima. movido por um ideal, abnegado em cumprir seu dever, quando poderia ter outras alternativas e escolhas de vida "mais comuns"?  

A história de Eli Cohen (talvez) não ganhe um Oscar. Nem precisa. Pois, com certeza, ele está repousando junto com os justos que morreram em Kidush Hashem em prol do povo judeu e da sobrevivência judaica no Estado de Israel.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

O MASSACRE DE HEBRON

                                        


A Palestina estava sob o mandato britânico. A cidade de Hebron, sul do território, era habitada por judeus e árabes que viviam numa certa tranquilidade. 

Incitados por notícias de que os judeus pretendiam tomar o Monte do Templo, em Jerusalém, turbas árabes avançaram sobre a comunidade judaica de Hebron. Os ataques tiveram início em 29 de agosto de 1929, um sábado e, por três dias, a cidade de Hebron foi cenário de um espetáculo de terror e violência sem precedentes.

Na época, cerca de 800 judeus, entre homens, mulheres e crianças estavam estabelecidos na cidade. Uma minoria dentre uma significativa população  de milhares de árabes.

O ataque vitimou 67 judeus, dentre eles, 12 mulheres e 3 crianças menores de 5 anos. A maioria dos homens assassinados eram jovens estudantes de uma Yeshivá, na cidade. Muitos feridos e mutilados. Sinagogas e casas foram depredadas. As vítimas fatais foram enterradas em sepulturas árabes coletivas e não tiveram direito a um enterro judaico digno.

Somente na casa de Eliezer Dan Slonim, filho do rabino da comunidade, foram assassinados 24 pessoas. Ele, inclusive, foi a primeira vítima a ser abatida. Nem seu filho mais velho de 6 anos, Aaron, foi poupado. A esposa morreu do coração ao presenciar a morte brutal de seu marido. Milagrosamente, o caçula da família, Shlomo, de apenas 1 ano e meio sobreviveu ao massacre.

Eliezer Dan (z"l) era dirigente de um banco israelense e, por conta do cargo, conseguiu inúmeros benefícios à comunidade judaica local. Também possuía bom relacionamento com os árabes que viviam em Hebron. Conta-se que em épocas de muito frio, os sheiks costumavam reunir-se na casa de Eliezer Dan para tomar café preto, jogar xadrez ou simplesmente conversar. 

Segundo Leo Gottesman, na época um jovem estudante da Yeshivá, que sobreviveu ao massacre, escreveu: "Parece inacreditável que Eliezer Dan tenha sido morto pelos árabes".

Algumas famílias árabes tentaram ajudar os judeus escondendo-os dentro de suas casas. Centenas de judeus foram poupados. 

Condenado pelas autoridades britânicas, o incentivador do ataque, Sheik Taleb Markah recebeu uma multa e a condenação de 2 anos de prisão. Penalidades brandas em relação à gravidade dos delitos cometidos. Enquanto que os judeus sobrevivientes foram realocados para Jerusalém. 

Pela primeira vez, em centenas de anos, não havia judeus na sagrada cidade de Hebron.


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Memorial às vítimas do massacre em Beth Hadassah


HEBRON  NA HISTÓRIA


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A cidade de Hebron é citado na Torá cerca de 87 vezes.

Por ocasião da morte de Sará, esposa do patriarca Avraham, como Kriat Arba (a cidade dos Quatro): "E morreu Sará em Kriat Arbá (Cidade dos Quatro), que é Hebron" (Gênesis 23:2).

Mas, este não é o único nome de Hebron. Ela possui dois outros nomes bíblicos: Eshkol e Mamré.

Avraham morou muito tempo lá, fez o brit milá (circuncisão) e recebeu a visita dos três hóspedes (anjos), trazendo-lhe a notícia que Sará geraria um filho.

A título de curiosidade, nossos explicadores trazem que alguns motivos para o nome Kriat Arba:
1. Em referência aos quatro gigantes que lá habitavam: Achiman, Sheshai, Talmai e o pai deles.
2. Em referência aos quatro casais que foram lá enterrados: Adão e Eva, Avraham e Sará, Yitzchak (Isaac) e Rivká (Rebeca), Yaakov (Jacob) e Leá.

Voltando ao falecimento de Sará, acrescento a seguinte informação relevante ao post desta semana:

Apesar de que Avraham poderia se valer da posse da terra prometida por D-us para enterrar Sará, o local foi adquirido por ele por 400 ciclos de prata numa negociação amplamente descrita na Torá (Bereshit 23). Ao final, depois de pagar em "cash" pelo campo e pela cova, Avraham enterrou sua esposa em Mearat HaMachpelá. Fato testemunhado, inclusive, pelos filhos de Chet, povo cananeu que habitava o território.

Na época de Iehoshua, por ocasião da distribuição da terra de Israel entre as 12 tribos, coube a Kalev Ben Iefunê (o espião que falou bem da terra de Israel, junto com o próprio Iehoshua) a cidade de Hebron. Kalev liderou sua tribo na conquista da cidade e arredores.

O Midrash conta que no trajeto para cumprir a missão de espionar a terra, Kalev ben Iefunê separou-se do grupo e seguiu em direção a Hebron, na Mearat HaMachpelá, para rezar no túmulo dos patriarcas e pedir proteção do mau conselho dos espiões.

Já no período dos reis de Israel, depois da morte de Saul, David permaneceu 7 anos em Hebron como rei de Judá até ser nomeado rei de todo Israel.

Os judeus da cidade de Hebron viveram continuamente na cidade atravessando os períodos em que Israel estava sob domínio bizantino, árabe, mameluco, otomano e britânico. Somente por ocasião do pogrom de 1929, os judeus foram retirados da cidade, retornando a partir de 1931. Em 1936, temendo um novo ataque, as autoridades britânicas retiraram os judeus.

Após a criação do Estado de Israel, em 1948, Hebron foi tomada pela Jordânia, que esteve empenhada em apagar qualquer resquício da vida judaica na cidade. O bairro judeu foi arrasado, o cemitério judaico foi profanado. Nem mesmo a antiga sinagoga Avraham Avinu, construída em 1540, por judeus espanhóis fugidos da Inquisição, escapou da destruição. O domínio jordaniano prevaleceu até 1967, quando, por ocasião da Guerra dos Seis Dias, a cidade voltou a ter administração judaica.

Em 1967, o major-general Shlomo Goren, rabino-chefe do exército foi o primeiro judeu a entrar na Mearat Hamachpelá. Desde então, os judeus vêm lutando para adquirir o direito de fazer suas orações nos túmulos de seus patriarcas e matriarcas.

MEARAT HAMACHPELÁ

O grande edifício que conhecemos hoje como Mearat HaMachpelá foi construído durante o governo de Herodes sobre a Judeia. Por volta de 1490, o acesso foi fechado à gruta onde estão enterrados nossos patriarcas e esposas foi fechada.





Apesar do assunto não ser nada agradável, espero que, pelo menos, tenha sido útil.

Até a próxima!

Para contato e dúvidas: miriam.i.benzecry@gmail.com






























terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

SHIMSHON (SANSÃO)

                                   Imagem relacionada

                                                    Escultura de Shimshon em Ashdod, Israel


Dando continuidade ao tema dos Shoftim - os Juízes (vide post sobre Guidon Ben Yoash), este post traz a história da controversa personalidade de Shimshon. Ao contrário do que muitos pensam, ele não foi um super herói do tipo que vemos nos quadrinhos, na TV ou no cinema. Mas, no seu tempo, com sua força excepcional e coragem, salvou do infortúnio a vida do povo de Israel subjugado por quarenta anos, pelos arqui-inimigos, os filisteus.

Antes de tratarmos sobre a vida de Shimshon, precisamos consultar a Torá para conhecer o conceito de Nazir (Nazireu ou Nazirita) e como funcionava na prática. O motivo? Shimshon era um Nazir. Um ponto bem importante: o Nazirato faz parte dos 613 mitzvot da Torá e compreende 2 mitzvot afirmativas e 8 proibitivas. Para os mais curiosos, existe uma seção inteira na Torá que fala sobre o tema no livro de Bamidbar (6:1-21). Aqui um pequeno resumo das leis de Nazirato:

Nazir significa apartado, já que em essência ele estava afastado dos prazeres mundanos. O Nazir não podia beber vinho e nem cortar os cabelos. Foi o caso de Shimshon, que foi santificado ainda quando estava na barriga de sua mãe, como veremos mais abaixo.

A palavra Nazir também deriva de "Nezer" - "Coroa". "Uma vez que a coroa de seu D-us está sobre sua cabeça" (Bamidbar 6:8) era proibido ter proximidade com mortos. A proibição vogava, inclusive, para os parentes muito próximos.

Um ponto bem interessante e importante, válido para todas as histórias do Tanach. Como tratam da histórias de vida de seres humanos, os fatos relatados estão bem próximos da realidade de qualquer pessoa. Fraquezas, vitórias, derrotas, falhas, acertos, castigos e recompensas. Sem filtros ou enfeites. Todos os assuntos são abordados sem meias palavras. Como alguém certa vez me comentou que no Tanach nada vai para "baixo do tapete"!


OS FILISTEUS


O povo de Israel mais uma vez caiu espiritualmente, afastando-se da Torá e de D-us. Como era recorrente no Período dos Shoftim, após um período de paz e tranquilidade, os israelitas afastavam-se dos preceitos da Torá e das crenças monoteístas, adotando práticas idólatras. Foi quando ergueu-se contra eles um poderoso inimigo do sudoeste.

Subjugado, o povo de Israel sofreu com a amarga opressão dos filisteus. Pesados impostos e escravidão foram-lhe infligidos. Pela proximidade do inimigo, a tribo de Dan foi muito atingida (vide mapa abaixo). O povo começou a clamar por um redentor.


SHIMSHON
                                                                                                        
                                                                                                            TRIBO DE DAN
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                   FILISTEIA

PS: não consegui um mapa em português.

Na tribo de Dan vivia um casal sem filhos, Manoach e Tzlelponit. A mulher era também conhecida por sua retidão de caráter (o Tanach refere-se a ela não pelo nome mas, como "a esposa de Manoach", por sua humildade).

Um anjo de D-us apareceu para Tzlelponit e prometeu-lhe um filho que salvaria o povo de Israel das mãos dos filisteus. A criança deveria ser um Nazir. O anjo a instruiu que desde a gestação, ela deveria abster-se de vinho. Shimshon já nasceu Nazir.

Desde criança, o menino demonstrava uma força extraordinária.  Shimshon era dotado de uma farta cabeleira, afinal, ele era um nazir. O Tanach relata que ao "descer" à cidade de Timná, Shimshon encantou-se por uma jovem filisteia, para desagrado de seus pais e quis desposá-la. Como podia juntar-se a uma idólatra? Shimshon achava que a proximidade dos inimigos o faria conhecer seus pontos fracos. Mais fácil seria prejudicá-los.

No casamento, 30 rapazes acompanharam o noivo. Conforme o costume dos casamentos da época, Shimshon apresentou-lhes uma charada para ser resolvida até o final dos sete dias festivos após o casório. Caso fossem bem sucedidos receberiam 30 lençóis e 30 mudas de roupas. Caso contrário, Shimshon receberia o prêmio. O enigma era: "Do comedor saiu a comida e do forte saiu a doçura".

Como não conseguiram decifrar a charada, no sétimo dia vieram até a esposa de Shimshon para pedir que obtivesse de seu esposo a resposta. A mulher foi chantageada, sob pena de morrer queimada numa fogueira, ela e sua família. A mulher insistiu até que Shimshon revelou a resposta para ela.

Aqui, abro um parênteses para levantar o seguinte questionamento: Já que Shimshon era conhecido por sua bravura (o Tanach descreve algumas passagens onde Shimshon mostrou extrema coragem, inclusive uma, antes de seu casamento, na qual ele enfrentou e matou um leão). Como Shimshon não conseguiu "vencer" a insistência da esposa?

Ao final do prazo, os rapazes vieram e trouxeram a solução a Shimshon: "O que é mais doce que o mel e mais forte que o leão!". Shimshon fora traído pela esposa! Pagou o combinado mas, decepcionado, abandonou a noiva e foi recolher-se na casa de seus pais. A mulher de Shimshon foi entregue a outro homem pelo pai.

Ao voltar para buscar sua esposa, Shimshon soube do fato. Muito aborrecido fez queimar os campos dos filisteus. Em represália, os filisteus subiram e queimaram a jovem e seu pai. Shimshon prometeu vingança e fez queimar os campos dos filisteus.

Com guerra estava declarada, um poderoso exército filisteu seguiu em direção a Yehudá. Eles queriam Shimshon vivo. Os homens de Yehudá desceram até o lugar onde ele estava e o confrontaram. O moço entregou-se pacificamente para não prejudicar seu povo.

Os filisteus festejaram a chegada do prisioneiro. Shimshon arrebentou as cordas que o amarravam e atacou os inimigos.

DELILÁ (DALILA): A DERROCADA

Após inúmeras derrotas, os filisteus concluíram que seria impossível capturar Shimshon de uma forma natural. Eles elaboraram um plano e contaram com a ajuda de Delilá, a nova escolhida de Shimshon, para que ela o fizesse revelar o segredo de sua força. Caso fosse bem sucedida, recebia uma gorda recompensa. Após três pistas falsas, finalmente Shimshon contou para ela seu segredo: seus cabelos nunca tinham sido cortados, conforme D-us tinha ordenado!

Delilá cortou seus cabelos. Sem a proteção de D-us, Shimshon virou uma presa fácil para os filisteus. Eles o prenderam, arrancaram seus olhos e o torturaram.

Nossos sábios dizem que o grande erro de Shimshon foi ser levado por "seus olhos". O Tanach enfatiza este fato em algumas passagens da história de Shimshon, e que por isso, os filisteus o cegaram.


TESHUVÁ: A TEFILÁ DE SHIMSHON

Os filisteus prepararam uma festa para sua idolatria, comemorando a grande vitória sobre o D-us de Israel e o aprisionamento de Shimshon.  No período em que se encontrava preso, os cabelos de Shimshon começaram a crescer e, graças à teshuvá (arrependimento) sua força foi se restabelecendo.

Todos os importantes de Filisteia estavam presentes na celebração. Trouxeram Shimshon para "brincar" diante deles. Shimshon foi amarrado entre duas colunas.

Shimshon rezou para que D-us devolvesse a força só daquela vez para vingar-se por lhe tirado sua visão. Shimshon abraçou as duas colunas centrais que sustentavam o local e disse: "Que eu morra com os filisteus!". A casa desabou matando todos os que estavam lá.

Shimshon foi enterrado entre Tzorá e Eshtaol, na sepultura de seu pai, Manoach (foto abaixo).

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O QUE DIFERENCIAVA SHIMSHON DOS OUTROS SHOFTIM (JUÍZES)

1. Shimshon foi o único que já nasceu destinado a ser Shofet.
2. Shimshon nasceu Nazir. Sua mãe inclusive absteve-se de vinho desde que engravidou dele.
3. Shimshon não liderou a maioria do povo e, muito menos, comandou um grande exército. Ele guerreou sozinho contra o inimigo.
4. Shimshon foi o único que foi preso pelos inimigos e morreu prisioneiro.
5. Todas os embates contra os filisteus nos vinte anos que Shimshon atuou como Shofet estão relacionadas com as esposas dele.
6. Shimshon enfraqueceu os inimigos, mas não os venceu. Somente no período do rei David é que os filisteus foram vencidos.
7. A influência direta do espírito de D-us esteve mais realçado em Shimshon do que nos outros Shoftim.


Espero que tenham gostado.
Até o próximo post!!!

BIBLIOGRAFIA

TANACH, LIVRO DE SHOFTIM