terça-feira, 17 de julho de 2018

OS PERÍODOS DA HISTÓRIA JUDAICA PARTE 2/2

Agradeço aos leitores pela receptividade que o blog HISTÓRIA JUDAICA EM FOCO vem recebendo neste primeiro mês de atividade. Agradeço também aos comentários; sem dúvida, nos ajudam a crescer e a melhorar. 

O Pirkê Avot 2:18 ensina: "Haiom Katzer vehamelachá merubá" - "O dia é curto e o trabalho é demasiado", palavras sábias, que, por si só, dispensam maiores explicações. Temos ainda um longo caminho pela frente e está sendo prazeroso fazer essa jornada com vocês!

Em relação às observações recebidas, que falam sobre a dificuldade de relacionar os números (datas) e personalidades com os fatos históricos, tenho uma boa e uma má notícia. 

Começando pela má notícia: não tem como falar de História, sem falar de datas, anos e séculos, ainda mais quando tratamos de sua periodização. Agora, a boa notícia é que, mais importante do que saber ou gravar as datas, é conhecer os períodos da História, o que aconteceu em cada um deles e colocá-los numa ordem cronológica.  O mesmo refere-se às personalidades judaicas.

É ter respostas às seguintes perguntas: 

1. "O que vem antes e depois de" 
2. "Quem vem antes e depois?"

Já que "nasci" professora, proponho um exercício com esquemas para ajudar na organização das ideias:

Desenhe uma linha reta. Vamos chamá-la de linha do tempo.
Usando as informações do post anterior:

Nível 1: Retire os nomes dos quatro primeiros períodos da História Judaica vistos até aqui e tente colocá-los na ordem cronológica.
Nível 2: Retire os principais acontecimentos de cada período e coloque-os na ordem cronológica.
Nível 3: Escreva o nome de todas as personalidades citadas em cada período. Coloque-as na ordem cronológica.


No post anterior, vimos quatro dos oito períodos que dividem a História Judaica. Vimos, também, que não existe uma única alternativa para periodizar a História Judaica, discutimos o quanto é essencial colocar os fatos históricos numa linha de tempo e que, situar os eventos na cronologia é, de fato, uma competência essencial no estudo da História, no nosso caso, em História Judaica. 

Depois dessa breve introdução podemos avançar!

5. PERÍODO DA IDADE MÉDIA: SÉCULOS 7 A 17


Crusader map of Jerusalem 1200 CE. Europeans have always been one of history's most effective invading & colonizing cultures.

Mapa de Jerusalém (no século 12)


Esse período teve início com o avanço e as conquista do Islã e se prolongou até a crise desencadeada pelo falso Messias Shabtai Tzvi (1626 - 1676), um judeu turco que se propôs a libertar a Palestina das mãos do domínio turco, transformando-a num estado independente e o aparecimento das tendências e visões características da Idade Moderna. 

Durante esses mil anos, os judeus ficaram à mercê de duas religiões monoteístas, o Cristianismo e o Islamismo, que se intercalaram nas perseguições, matanças e humilhações. 

Do século 7 até o século 11, a Babilônia era centro mundial da vida judaica.


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Muitos foram os fatos históricos marcantes para os judeus da Idade Média. Depois de muito ponderar, resolvi destacar seis deles:

A) SÉCULO 7  


Com o avanço e as conquistas do Islã, a grande maioria dos judeu ficou sob o domínio de um governo único (dos muçulmanos).

A cultura do Islamismo, que passou, segundo historiadores, por um "processo de helenização", teve grande impacto sobre a vida cultural e espiritual dos judeus.

B) AS PRIMEIRAS CRUZADAS: 1096


As Cruzadas foram expedições militares organizadas pela igreja para combater os infiéis inimigos do Cristianismo e "libertar" Jerusalém do domínio turco (muçulmanos radicais).

Organizada pelo Papa Urbano II e atendendo o seu chamado, dezenas de milhares de cristãos  partiram em direção a Jerusalém. As Cruzadas deixaram um rastro de sangue e de violência por onde passaram. Julgados também infiéis, os judeus foram suas primeiras vítimas, já que habitavam em muitas comunidades da Europa, que se encontravam no "caminho" por onde passaram os cruzados na ida à Terra Santa. 

Para a grande maioria dos judeus, a palavra Cruzadas estava (está) associada à morte e à conversão forçada. Os judeus, que foram assassinados pelas Cruzadas, morreram em Kidush Hashem (Santificando o nome de D-us).

Em 1099, quando os Cruzados capturaram Jerusalém, reuniram todos os judeus da cidade dentro de uma sinagoga e os queimaram vivos. Posteriormente, os não cristãos foram proíbidos de morar na cidade.

Oficialmente foram realizadas 9 Cruzadas, num período de duzentos anos.


A partir do século 11, diminuiu a afluência dos judeus da Diáspora à Babilônia, despontando dois novos centros judaicos - na Espanha e no norte da África e na Alemanha.

C) A PESTE NEGRA: 1348 -1349


Transmitida pela picada de pulgas de ratos doentes, que chegavam à Europa nos porões dos navios vindos do Oriente, a Peste Negra ou Peste Bubônica foi uma doença que dizimou quase um terço da população europeia. Como as cidades medievais não tinham condições higiênicas adequadas, os ratos se espalharam facilmente. Pelos poucos recursos médicos, após o contato com a doença, a pessoa tinha poucos dias de vida. 


Para agravar ainda mais a situação, líderes europeus culparam os judeus pela Peste Negra, acusando-os de envenenar os poços de água. Mais uma vez, houve ondas de perseguições, expulsões e massacres de judeus em várias comunidades da Europa.


D) A EXPULSÃO DA ESPANHA: 1492



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Os judeus da Espanha que, no decorrer dos séculos, haviam prosperado do ponto de vista cultural, político e econômico, mais do que qualquer outra comunidade judaica medieval, foram sumariamente expulsos daquele país.

No Édito de Expulsão, que datou de 31 de Março de 1492, os reis espanhóis Fernando II de Aragão e Isabel de Castela decretaram a Religião Judaica ilegal e deram um prazo de 4 meses para que os judeus escolhessem entre deixar a Espanhar ou se converter ao Cristianismo. 

A expulsão da Espanha, encabeçada pelo frade Tomás de Torquemada, foi a "pedra da coroa" da Inquisição espanhola. Torquemada acreditava que a permanência dos judeus na Espanha influenciaria os recém convertidos ao Cristianismo a retornarem ao Judaísmo. 

Naquele ano, em 30 de julho, cerca de 200.000 partiram da Espanha, deixando para trás suas posses, seus trabalhos e suas vidas. Dezenas de milhares de judeus refugiados morreram enquanto buscavam segurança em outros países. 

Muitos judeus se estabeleceram no Império Otomano, onde o Sultão Bazajeto II os recebeu de "braços abertos", nos Países Baixos e nas comunidades askenazitas da Polônia e Lituânia.





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E) OS LIBELOS DE SANGUE


Em 1144, em Norwich (Inglaterra), quando apareceu a primeira criança assassinada, vieram junto os rumores de que os judeus precisavam sacrificar crianças cristãs para que seu sangue fosse usado na fabricação de matzot e vinho para o Sêder (Libelos de Sangue).

Desde então, nos sete séculos que sucederam o primeiro Libelo de Sangue,  a festa de Pêssach tornou-se um período terrível para os judeus da Europa, que tiveram que enfrentar ensandecidas multidões de fanáticos por toda a Europa, nos famosos e trágicos episódios de Libelos de Sangue.


Essa infundada acusação de uso de sacrifícios humanos para uso nas práticas religiosas nunca considerou o fato de que o Judaísmo foi a primeira religião que proibiu tais atos, além do que, a Torá proíbe o consumo de sangue aos judeus.


F) MASSACRES DE CHMIELNITZKI: 1648 - 1649


Também chamadas de Guezerot Tach Vetat (as catástrofes dos anos judaicos de TACH - 5408 e Tat - 5409) foi o nome dado ao episódio da carnificina causado pela revolta liderada pelo cossaco ucraniano Bodgan Chmielnitzki contra o regime e as leis da Polônia sobre seu país. 


Como na época os judeus trabalhavam para os nobres poloneses que possuíam grandes extensões de terra na Ucrânia, a ira dos cossacos voltou-se contra os judeus. Estima-se que mais de 100.000 judeus foram assassinados, o que na prática correspondia a cerca de 5% da população judaica mundial.

6. ILUMINISMO: SÉCULOS 18 e 19


O surgimento de dois grandes movimentos judaicos, o Chassidismos, na Europa Oriental e o Iluminismo Judaico (Haskalá), na Europa Ocidental, foram considerados como o ponto de virada decisivo na história da sociedade judaica. 

A) O CHASSIDISMO



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                                       Dança chassídica, tela de Moshe Bernein




Nome do movimento fundado pelo Rabi Israel Ben Eliezer (Baal She Tov), que teve impacto de longo alcance na prática e no pensamento judaico. Até o aparecimento do Chassidismo havia uma separação entre os eruditos da Torá e os iletrados judeus.

Os ensinamentos do Baal Shem Tov quebraram esse paradigma, mostrando que a sinceridade no Serviço a D-us, de um simples judeu, poderia alcançar níveis mais elevados daqueles alcançados por um estudioso.

Esse movimento foi tão bem sucedido que conseguiu reerguer o espírito alquebrado do judeu simples, já bastante "machucado" pelas perseguições e privações causadas, principalmente, em consequência dos massacres de Chmielnitzki e do falso Messias Shabtai Tzvi.

O Chassidismo se espalhou rapidamente conseguindo aproximar um grande número de judeus afastados, tornando-os adeptos do movimento: os chassidim.



B) O ILUMINISMO JUDAICO (HAHASKALÁ)


O Ilumismo Judaico (Hahaskalá) teve origem no Iluminismo europeu e perdurou por quase um século na Europa. Segundo a opinião de muitos historiadores, este período marcou o início da Era Moderna na História Judaica. O movimento se deu primeiramente na Europa Central (na Alemanha) e, depois, se alastrou pela Europa Ocidental e Oriental.

Haskalá deriva da palavra hebraica "sechel", que significa razão ou intelecto. 


Os judeus se viram atraídos pelas ideias do movimento, que preconizava a vontade do homem acima de qualquer coisa. Com o poder inerente da razão, cada ser humano poderia decidir que caminho tomar. 

O Iluminismo deu ênfase aos direitos civis e, pela primeira vez, o mundo ocidental despontou um olhar tolerante aos judeus. Nesse período, foram emitidos éditos de tolerância concedendo alguns direitos básicos aos judeus.


Aproveitando a abertura da sociedade maior aos judeus, a Haskalá incentivou o estudo de temas seculares, o aprendizado de idiomas europeus e do Hebraico, a especialização em agricultura, artesanato, artes e ciências. Os maskilim (adeptos da Haskalá) tentaram assimilar-se à sociedade europeia na vestimenta, na linguagem, nas boas maneiras e na lealdade ao poder dominante. Eventualmente, a Haskalá influenciou a criação dos movimentos reformista e sionista.


7. PERÍODO DE RENASCIMENTO DO NACIONALISMO JUDAICO


Refere-se à época em que surgiu o movimento de despertar do nacionalismo judaico. Esse período foi considerado um divisor de águas entre a Haskalá e a entrada da Era Moderna.

Originado na Europa Oriental, o Movimento do Nacionalismo Judaico teve início nas décadas de 1869 e 1870. Durante a sua existência, um novo e radical programa de renascimento nacional passou a ser fomentado, preconizando a visão de que os judeus formavam uma nação, não somente por comungarem um passado, uma religião e uma cultura, mas por almejarem um futuro compartilhado na realização nacional e política.

O crescimento do Movimento Renascentista do Nacionalismo Judaico se deu, principalmente, por dois fatores:

A) O aparecimento de outros movimentos de cunho nacionalista na Europa (século 19), que conseguiram atingir seus objetivos de obter o reconhecimento e a independência política de seus países, como foi o caso dos sérvios e dos búlgaros. O sucesso desses movimentos serviu de estímulo e de modelo ao avivamento dos ideais nacionalistas judaicos, por uma pátria judaica independente.

B) O desapontamento de muitos intelectuais com a Haskalá, por não levar ao estabelecimento de uma sociedade alicerçada em princípios racionais. A Haskalá não conseguiu diminuir a hostilidade contra os judeus, pelo contrário, esta se tornou mais forte, constituíndo-se em um moderno "movimento das massas". A explosão em cadeia dos pogroms na Rússia foi um exemplo clássico disso.


8. A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL: 1948


Destacamos aqui dois marcos fundamentais para a criação de um Estado judeu:

A) O MANDATO BRITÂNICO NA PALESTINA:


O sistema de Mandato foi instituído pela Liga das Nações no início do século 20, com o intuito de administrar territórios não autônomos temporariamente, a fim de garantir o bem estar e o avanço da população.

Reconhecendo o direito histórico do povo judeu na Palestina, a Grã-Bretanha foi nomeada mandatária do território, dando origem ao Mandato Britânico na Palestina. Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral decidiu pela partilha da Palestina. A Grã-Bretanha anunciou o término de seu mandato no território, em 15 de maio de 1948.

Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel foi proclamado.


B) A DECLARAÇÃO BALFOUR: 1917



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O ministro britânico das Relações Exteriores, Lord Arthur Balfour, emitiu um documento, consagrado posteriormente, como Declaração Balfour. Apesar do nome pomposo, tratava-se, na verdade, de uma carta simples e concisa, endereçada ao barão Walter Rothschild, um dos principais líderes da comunidade judaica da Inglaterra, na qual respalda, pela primeira vez, "o estabelecimento de um lar nacional judaico para o povo judeu, na Palestina".



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Como foi falado na parte 1, esses foram, em linhas gerais, os acontecimentos que marcaram a História dos judeus. Alguns fatos foram suprimidos, até por conta do espaço. Espero que tenham aproveitado. Se ficou alguma dúvida, perguntem sempre! 

Até o próximo!




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