quinta-feira, 19 de julho de 2018

TISHA BEAV

No dia 01 de julho último, os judeus entraram no Bên Hametzarim - "em meio às aflições", um período de três semanas de duração, assim denominado, em referência ao versículo do Tanach, "Todos os seus perseguidores a sobrepujaram em meio às aflições" (Eichá - Lamentações 1:3).  As três semanas começaram com o jejum de 17 (do mês judaico) de Tamuz e se encerrará com o Tishá Beav - o dia 9 (do mês judaico) de Av, considerado o dia mais triste do Calendário Judaico. 
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Mesmo não sendo a proposta deste blog (e, considerando a importância da data) divulgo os horários do jejum (São Paulo):
Início do Jejum - 21/Jul/2018 - às 17h39
Término do Jejum (c/Havdalá) dia 22/Jul/2018 - às 18h09

Para saber mais sobre essas leis, clique no link.

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Muitos eventos trágicos da História Judaica aconteceram em Tishá Beav e é por esse esse dia é marcado e lembrado pelo luto e pela tristeza.

Vamos aos fatos!








1. O PECADO DOS ESPIÕES: 1312 AEC


A primeira vez em que a data de Tishá Beav entrou para a história dos judeus foi no deserto, logo depois da saída do Egito, no episódio bíblico conhecido como o Pecado dos Espiões. Na linha do tempo se encontra dentro do 1º Período da História Judaica (vide post Os Períodos da História Judaica 1/1).

O livro de Bamidbar (o quarto, dos cinco livros da Torá) traz o seguinte relato:

Vias de entrar na Terra Prometida, o povo de Israel pede a Moisés, como parte da estratégia de guerra, que envie espiões para que observar a Terra. Com a concordância de D-us, Moisés escolheu 12 espiões, que eram os líderes de suas tribos, homens dos mais conhecidos e distintos (anashim).

Na lista dos espiões encontrava-se o nome Iehoshua (Josué), representando a tribo de Efraim. Posteriormente, Josué sucedeu Moisés na liderança do povo e foi ele quem comandou a conquista e o assentamento das tribos na Terra de Israel. 

Após 40 dias em missão, na noite de Tishá Beav, os espiões retornaram. "Realmente é uma terra que emana leite e mel, entretanto ...",  primeiro, eles elogiaram Israel, depois amedrontaram o povo, citando os gigantes, as cidades fortificadas e as frutas monstruosas. "Os habitantes da Terra de Israel eram tão altos, que nós parecíamos gafanhotos ao lado deles". E deram um parecer não solicitado: a missão era suicida e os israelitas seriam massacrados. 

Apesar dos argumentos de Josué e de Kalev, representante da tribo de Iehudá (Judá), o povo acreditou nos 10 espiões. Eles choraram e se enlutaram, antecipando uma possível catástrofe. O povo se voltou contra Moisés: "Você nos trouxe para morrer no deserto?" - perguntaram em fúria. 

Aquelas não entraram em Israel. Os israelitas ficaram 40 anos perambulando pelo deserto até que toda aquela geração morresse e fosse renovada. Mas, não parou por aí. Por terem chorado sem motivo, diz o Talmud (Taanit 29a), foi lhes dado um motivo para chorar (nesse dia) pelas gerações futuras. 


2. O PRIMEIRO TEMPLO (BEIT HAMIKDASH) FOI DESTRUÍDO: 586 AEC


Ocorrida no ano de 586 AEC, a destruição do 1º Templo foi praticada pelos babilônios, sob o comando de (Nevuchadnetzar) Nabucodonosor. Na linha do tempo, esse fato se encontra dentro do 2º Período da História Judaica.

O 1º Templo foi construído pelo rei Salomão. Era uma belíssima construção. O Templo era o centro da vida judaica. Depois da morte do soberano, o Reino foi dividido em dois: Iehudá (Judá/Judeia, com as tribos de Judá e Benjamim) Israel (10 tribos restantes). As tribos que compunham o Reino de Israel se negaram a reconhecer como rei Rechavam (Roboão), filho e herdeiro de Salomão. Em vez disso, aceitaram como rei o rebelde Ierav'am (Jeroboão I) Ben Nevat e estabeleceram Shomron (Samária) como a a capital deste Reino, enquanto que Jerusalém permaneceu a capital do Reino de Judá

No ano de 720 AEC, o Reino de Israel foi invadido pelos Assírios, que exilaram e espalharam seus habitantes pelo mundo. Até hoje se busca resquícios do paradeiro das 10 tribos.

O Reino de Judá permaneceu. Mas, não eternamente. Irmiahu (Jeremias), o profeta, junto com outros profetas, previram que um futuro sombrio aguardava o Reino. Não seria um happy-end. Um governo corrupto e o afastamento da moralidade imperava em Judá. Os judeus não levaram a sério os profetas e nem suas profecias. 

O profeta Jeremias escreveu com detalhes no livro de Eichá a destruição do Templo e de Jerusalém. O livro de Eichá (Lamentações) é lido em Tishá Beav.

Quando o Reino de Judá assinou uma aliança com o Egito, país inimigo da Babilônia, despertou a ira de Nevuchadnetzar (Nabucodonosor),  Imperador babilônico, que declarou guerra à Judá, conquistou Jerusalém e exilou dezenas de milhares de judeus para a Babilônia. Depôs Iechoniá (Jeconias) e colocou seu sobrinho Tzidkiahu (Zedequias) no lugar. Zedequias foi o último Rei de Judá.

Apesar das advertências de Jeremias, Zedequias tentou uma nova aliança com o Egito para se rebelar contra os babilônios. porém a resposta de Nabucodonosor não tardou a chegar. Ele partiu em direção de Jerusalém com o objetivo de destruí-la. 

CRONOLOGIA DA DESTRUIÇÃO:

10 de Tevet (dia de jejum) - Jerusalém foi cercada (por 30 meses).
17 de Tamuz (dia de jejum) - As muralhas da cidade foram rompidas.
7 de Av - Nevuzaradan, general do exército babilônico, começou a destruição da cidade.
9 de Av - Destruição do Templo Sagrado e exílio babilônico.


O Talmud Iomá traz que a destruição do 1º Templo deveu-se a três transgressões: Idolatria, relações proíbidas e assassinato.

3. O SEGUNDO BEIT HAMIKDASH FOI DESTRUÍDO: 70 EC


Ocorrida no ano de 70 EC, a destruição do 2º Templo foi executada pelos romanos, sob o comando de Tito. Na linha do tempo, esse fato se encontra dentro do 3º Período da História Judaica.

O 2º Templo foi construído 70 anos depois da destruição do 1º Templo, em 515 AEC, com a autorização do Império Persa, grande potência da época, que detinha o poder sob Judá. Aliás, durante toda a sua existência do Templo, com exceção do período em que a Dinastia Chashmoneia (cerca de 200 anos), os judeus viveram sob o domínio de nações estrangeiras, até a chegada dos romanos.

Sob o domínio romano, os judeus eram tratados com muita violência e crueldade e foram proibidos de práticas judaicas essenciais. Estes dois fatores desencadearam uma rebelião na esperança de retomar a Terra de Israel. 

Roma reagiu mandando um exército comandado pelo general Tito. Ele impôs um cerco cruel em volta da cidade de Jerusalém, deixando seus habitantes passando fome e sede. Em Tishá Beav, Tito invadiu a cidade e queimou o Templo Sagrado, deixando um saldo de dezenas de milhares de mortos. Jerusalém foi destruída. Os sobreviventes foram exilados e espalhados pelo mundo afora.

O Talmud Iomá traz que a destruição do 2º Templo deveu-se ao ódio injustificado entre as pessoas. 

4. A DERROTA DE BETAR: 135 EC


Anos se passaram após a destruição de Jerusalém. Em 117 EC, ao assumir o Império Romano, Adriano (76 EC - 138 EC) fez aos judeus uma série de promessas, dentre as quais estavam a liberdade e a tolerância religiosa, além da autorização para reconstruir Jerusalém e a volta dos serviços sagrados no Templo.

Na prática, Adriano determinou a reconstrução de Jerusalém, não como uma cidade judaica mas, uma cidade romana, chamando-a de Aelia (em referência ao próprio nome, Publius Aelius Hadrianus) Capitolina (em referência à idolatria de Júpiter, cujo templo ficava em Roma. no Monte Capitolene). Determinou também a construção de um santuário para a Júpiter, dentro do Templo Sagrado. Os judeus foram proibidos de estudar Torá, cumprir o Shabat e fazer o Brit Milá (circuncidar os meninos aos 8 dias de vida).



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                                                                 Aelia Capitolina

As atitudes de Adriano levaram à mal sucedida rebelião dos judeus contra seu domínio, ocorrida entre 132 EC e 135 EC e liderada por Bar Kochbá (Bar Koziva), um judeu que muitos acreditavam ser o Messias. Surgiu uma nova revolta (135 EC), desta vez na cidade de Betar, próxima de Jerusalém, também reprimida com mão forte pelos romanos. 

Em Tishá Beav, a cidade foi completamente destruída, vitimando milhares de judeus, homens, mulheres e crianças. Na linha do tempo, esse fato se encontra dentro do 4º Período da História Judaica.

5. A REGIÃO DO TEMPLO FOI ARADA: 136 EC


Um ano depois, em Tishá Beav, a região do Templo foi arada. Nessa atitude, Adriano quis apagar completamente qualquer vestígio da população judaica em Israel. O ato de arar a região arruinou, por completo, o que sobrara do Templo.

Segundo a opinião do Rabino Berel Wein, a atitude de Adriano ao arar a região do Templo, foi "resolver o problema judaico de uma vez por todas". Somente erradicando o Judaísmo, Adriano conseguiria concretizar o plano de extermínio total dos judeus.

Na linha do tempo, esse fato se encontra dentro do 4º Período da História Judaica.


7. A EXPULSÃO DA INGLATERRA:1290


Em 18 de julho de 1290, o Rei Eduardo I assinou o Édito de expulsão dos judeus da Inglaterra, depois de uma permanência de quase 200 anos. Esse acontecimento ficou marcado na História Judaica como a primeira vez que houve a expulsão total de uma comunidade judaica da Europa.

Na linha do tempo, esse fato se encontra dentro do 5º Período da História Judaica.


7. A EXPULSÃO DA ESPANHA: 1492


Alguns judeus já habitavam a Espanha desde a época do exílio babilônico, onde estabeleceram uma comunidade judaica. Com o exílio romano, grande parte dos exilados se dirigiu à Espanha, que se transformou, com o passar dos tempos, na maior comunidade judaica do continente europeu.

Na Espanha, os judeus prosperaram em sabedoria, riqueza e prestígio. E se mantiveram por cerca de 1400 anos até o ano de 1492 quando os reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela publicaram o Édito de Expulsão (31 de Março) dando um prazo de 4 meses para que os judeus deixassem o país. Os reis não queriam nenhum judeu no solo espanhol.

Naquele ano, em 30 de julho, cerca de 200.000 partiram da Espanha, deixando para trás suas posses, seus trabalhos e suas vidas. Dezenas de milhares judeus refugiados morreram enquanto buscavam segurança em outros países. 


Na linha do tempo, esse fato se encontra dentro do 5º Período da História Judaica.

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Para finalizar transcrevo a seguinte história:

Conta-se que certa vez Napoleão Bonaparte passou perto de uma sinagoga e viu os judeus sentados no chão. Alguns, até, choravam. Napoleão estranhou e questionou o que estava acontecendo com os judeus. Recebeu a seguinte resposta:

- Os judeus estão tristes porque seu Templo Sagrado foi destruído!

Napoleão ficou mais intrigado:

- Quando isso aconteceu? Por que não fiquei sabendo?

Seus conselheiros responderam que isso tinha acontecido há milhares de ano atrás.

Napoleão ficou atônito mas, concluiu:

- Um povo que ainda lembra e se lamenta por um evento que ocorreu há milhares de anos, certamente um dia retornará à sua terra e verá sua reconstrução!" 


Que possamos ser merecedores da reconstrução do último e definitivo Beit Hamikdash!

Até a próxima!

2 comentários:

Obrigada pelo comentário.