Além do prejuízo financeiro vultoso, fruto das destruição, saques de bens e propriedades judaicas (lojas, edifícios comunitários e sinagogas), envio de dezenas de milhares de homens aos Campos de Concentração, do confinamento de mulheres nas prisões locais e da pesada multa de 1 milhão de Reichmarks (cerca de US$ 400 mil dólares) que tiveram que arcar pelas ruínas deixadas, os judeus foram afetados por novas sanções que, sistematicamente, os excluíram da vida pública. As restrições impostas aos adultos atingiram crianças e adolescentes judeus, que, em acréscimo às proibições impostas aos adultos, foram expulsos de suas escolas.
Na tentativa de salvar as crianças dos pesadelos da guerra, pessoas e entidades judaicas e não judaicas, se mobilizaram em tentativas informais de resgate e organizaram os chamados Kindertransport - Transportes de Crianças. A Grã-Bretanha aceitou receber temporariamente essas crianças, desde que houvesse garantias com os custos da estadia, da educação e dos cuidados de cada criança. Foi exigido, também, um depósito em dinheiro para custear a passagem de volta aos seus lares.
O Estado inglês não queria ser onerado em nenhuma despesa relacionada a essas crianças. E, por outro lado, houve comprometimento de que as condições impostas pela Grã-Bretanha fossem cumpridas. O trabalho de triagem das crianças foi iniciado.
As crianças em zona de risco, aquelas que não podiam ser cuidadas por seus pais, ou porque eles estavam nos Campos de Concentração ou porque já haviam morrido, eram priorizadas. Os Kindertransport atuaram entre os anos de 1938 e 1940 e salvaram aproximadamente 10.000 crianças entre 2 e 17 anos. As crianças viajavam desacompanhadas.
Passaram-se muitos anos. As crianças cresceram e viraram adultos.
Neste post vamos dar voz a elas. Aos seus sentimentos. Às suas histórias. Essas crianças foram sobreviventes, não somente do terror Nazista e das agruras da guerra, mas por terem, sozinhas, recomeçado suas vidas, apesar de estarem longe de seus pais, de suas famílias e de seus lares.
O início da história das crianças dos Kindertransport "parece" similar: uma infância feliz, pais amorosos e cercados de todos os mimos. Até a Kristallnacht... quando, por amor aos filhos, os pais decidiram embarcá-los em trens repletos de crianças, rumo ao desconhecido.
MEMÓRIAS EM UMA MALA
Heinz Wolfgang Finke, nascido em 1924, em Insterburg (Alemanha). O pai, Arthur-Otto, tinha um comércio de roupas, inclusive, vendia uniformes de polícia. A mãe era uma dona de casa e tocava piano nos eventos da comunidade. Heinz tinha um irmão mais novo, Ernest. A avó, Hedwig Markiewitz, morava com eles.
Na Kristallnacht foram acordados no meio da noite e levados à delegacia de polícia. As mulheres e as crianças foram liberadas logo pela manhã, mas o pai de Heinz permaneceu preso por várias semanas. Esse evento traumatizante levou os pais de Heinz a procurar uma rota de fuga para salvar, pelo menos, os filhos.
Heinz foi incluído no Kindertransport e partiu da Alemanha, em Junho de 1939. Seu irmão caçula permaneceu com os pais. Em uma semana, ele empacotou todos os seus pertences em duas malas. Na tampa de uma delas estava a lista de todas as roupas que levava (a mala se encontra preservada no Museu Yad Vashem, em Jerusalém).
Ao chegar na Inglaterra, Heinz e alguns meninos foram enviados a um albergue na cidade de Claydon (Suffolk). Aos 15 anos, trabalhou numa colheita de frutas. Posteriormente, ele foi transferido para outro albergue, na cidade de Walsall, perto de Birminghan, sob responsabilidade de um comitê local. Na Kristallnacht foram acordados no meio da noite e levados à delegacia de polícia. As mulheres e as crianças foram liberadas logo pela manhã, mas o pai de Heinz permaneceu preso por várias semanas. Esse evento traumatizante levou os pais de Heinz a procurar uma rota de fuga para salvar, pelo menos, os filhos.
Heinz foi incluído no Kindertransport e partiu da Alemanha, em Junho de 1939. Seu irmão caçula permaneceu com os pais. Em uma semana, ele empacotou todos os seus pertences em duas malas. Na tampa de uma delas estava a lista de todas as roupas que levava (a mala se encontra preservada no Museu Yad Vashem, em Jerusalém).
Uma vez por mês, Heinz recebia uma carta de seus pais por intermédio da Cruz Vermelha. Em meados de 1942, sua avó escreveu-lhe para dizer que seus pais e seu irmão haviam "saído". Desde então, ele nunca mais ouviu falar de sua família.
Após a queda de Dunquerque, em 1940, a Inglaterra adotou a política (absurda) de que os refugiados judeus que escaparam da Alemanha Nazista, com mais de 16 anos, deveriam ser "devolvidos" aos Campos de Concentração como "estrangeiros inimigos", junto com prisioneiros de guerra alemães. Eram "estrangeiros" e "inimigos".
Para a sorte de Heinz, ele ainda não completara 16 anos. Assim, pôde ficar com os garotos de cidadania polonesa, considerados "estrangeiros amigáveis". Depois de muita pressão da opinião pública, os jovens refugiados passaram a ser considerados "estrangeiros amigáveis de origem inimiga" e nessa categoria, era proibidos de trabalhar em áreas de Segurança Nacional.
Com o final da guerra, Heinz defrontou-se com a dura realidade: sua família não voltaria. Mas, ele não desistiu, saiu em busca de parentes nas listas de sobreviventes, encontrando uma tia de Berlim, Ursula Finke. Ursula estava escondia quando foi delatada por informantes. Depois de uma tentativa frustrada de suicídio, ela foi hospitalizada no Hospital Judaico de Berlim, onde permaneceu até o final da Guerra.
Heinz conheceu sua esposa Thelma ao visitar Birminghan. Em 1956, eles se casaram e tiveram dois filhos, Ruth e Arthur Finke. Ambos moram na Inglaterra.
"QUEM SALVA UMA VIDA, SALVA O MUNDO INTEIRO" (TALMUD)
Nicholas Winton nasceu em 18 de Maio de 1909, em West Hampstead, Inglaterra. De ascendência judaica (Wertheimer) foi batizado na Igreja Anglicana. Trabalhava como Corretor da Bolsa de Valores.
A guinada na vida de Nicholas Winton aconteceu em Dezembro de 1938, quando um amigo pediu que renunciasse às suas planejadas férias de esqui e se juntasse a ele na Tchecoslováquia, onde viajara pelo Comitê Britânico para Refugiados, naquele país. Winton aceitou o convite, e juntos visitaram campos de refugiados nos Sudetos, lotados de judeus e oponentes do regime político (nazista) da região.
Winton ficou alarmado com a truculência com que os Nazistas tratavam a comunidade judaica, principalmente depois da Kristallnacht. Quando tomou conhecimento dos Kindertransport, reuniu um pequeno grupo de amigos e passou a organizar uma operação similar.
Sem autorização, Wintou usou o nome do Comitê para criar a seção infantil do Comitê Britânico para Refugiados da Tchecoslováquia, que funcionava no hotel em que estava hospedado. Logo, as longas filas de pais que buscavam um "porto seguro" para seus filhos, na frente do hotel, fizeram que ele abrisse um escritório no centro de Praga.
O idealista inglês viajou para Londres a fim de levantar as verbas para a absorção das crianças refugiadas na Grã-Bretanha. Winton precisava encontrar famílias dispostas a receber essas crianças em suas casas. O dia de Nicholas Winton era intenso: durante o dia, ele continuava como corretor na Bolsa de Valores de Londres e, à noite, se dedicava ao resgate das crianças.
O primeiro Kindertransport organizado por Winton, foi um voo de Praga para Londres, no dia 14 de Março de 1939. Os outros sete transportes seguiram, primeiramente, de trem de Praga e da Alemanha e, depois, de navio, à Grã-Bretanha, onde, os pais adotivos já aguardavam "suas" crianças. O último trem deixou Praga em 2 de Agosto de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia dando início à 2ª Guerra Mundial, em Setembro de 1939. Nicholas Winton resgatou 669 crianças.
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Até a próxima!
Winton ficou alarmado com a truculência com que os Nazistas tratavam a comunidade judaica, principalmente depois da Kristallnacht. Quando tomou conhecimento dos Kindertransport, reuniu um pequeno grupo de amigos e passou a organizar uma operação similar.
Sem autorização, Wintou usou o nome do Comitê para criar a seção infantil do Comitê Britânico para Refugiados da Tchecoslováquia, que funcionava no hotel em que estava hospedado. Logo, as longas filas de pais que buscavam um "porto seguro" para seus filhos, na frente do hotel, fizeram que ele abrisse um escritório no centro de Praga.
O idealista inglês viajou para Londres a fim de levantar as verbas para a absorção das crianças refugiadas na Grã-Bretanha. Winton precisava encontrar famílias dispostas a receber essas crianças em suas casas. O dia de Nicholas Winton era intenso: durante o dia, ele continuava como corretor na Bolsa de Valores de Londres e, à noite, se dedicava ao resgate das crianças.
O primeiro Kindertransport organizado por Winton, foi um voo de Praga para Londres, no dia 14 de Março de 1939. Os outros sete transportes seguiram, primeiramente, de trem de Praga e da Alemanha e, depois, de navio, à Grã-Bretanha, onde, os pais adotivos já aguardavam "suas" crianças. O último trem deixou Praga em 2 de Agosto de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia dando início à 2ª Guerra Mundial, em Setembro de 1939. Nicholas Winton resgatou 669 crianças.
"Não existe futuro, se eles (as crianças judias) permanecerem onde estão"
Trecho da carta escrita por Nicholas Winton ao Presidente Roosevelt
Os esforços empreendidos por Nicholas Winton ficaram desconhecidos do mundo até 1988, quando sua esposa, Grete, encontrou, no sótão da residência, um álbum com as fotos e uma lista completa com o nome das crianças resgatadas.
Desde lá, Winton recebeu muitas homenagens. Em 2012, foi condecorado pelas mãos da Rainha Elizabeth II, com o título de cavaleiro e também se tornou cidadão honorário da República Tcheca, em 2008.
Sir Nicholas Winton morreu aos 106 anos de idade, em 2015.
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História triste mas com alguns finais felizes
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