domingo, 29 de março de 2020

OS PRIMÓRDIOS DO MUNDO

Ficheiro:Pieter Bruegel the Elder - The Tower of Babel (Rotterdam ...

                                     Pintura de Pieter Bruegel, o velho, cerca de 1563-1565


Tudo começou com uma brincadeira para passar o tempo neste período surreal. Um quiz sobre Judaísmo básico. Bolei 10 perguntas. Na minha avaliação, era o cada um, judeu ou judia, deve(ria) saber. Depois de algumas respostas, cheguei a uma conclusão: precisamos estudar mais!

Como uma ação vale mais do que mil suspiros, resolvi escrever este post, falando sobre os primórdios do mundo, compreendendo as primeiras vinte gerações, de Adam (Adam) até Avraham Avinu.

Primeiro, uma breve linha do tempo:

    ADAM (Adão)  ---- (10 gerações) ------- NOACH (NOÉ) ---- (10 gerações) ------- AVRAHAM


Adão se casou com a Eva e tiveram três filhos: Kain, Abel (Hevel) e Shet (muita gente não sabe da existência deste terceiro filho). Kain matou Abel, e depois, foi vítima de assassinato. Nasceu Shet. A Torá relata ainda o nascimento de outros filhos e filhas para o casal.

Com o passar do tempo, as pessoas foram se multiplicando e se afastando do caminho correto, se distanciando do objetivo original da criação do mundo. Até que começaram a roubar. Enquanto estavam somente "aborrecendo" o Criador, Ele ainda não havia decretado a destruição do mundo, porém, a partir do momento em que tornaram-se corruptas umas com as outras, D-us determinou que chegara o momento de começar tudo do zero. Ou não tão do zero assim, já que Ele poupou Noé, sua esposa, seus três filhos (Shem, Cham e Iefet) e as esposas deles, além de um par de cada espécie de animal não-puro e sete casais dos animais puros.

Noé foi incumbido de construir uma arca, com três andares e muitos compartimentos. O andar térreo seria para o lixo, os animais ficariam no segundo andar e no andar superior, os seres humanos e a comida. A arca tinha uma janela no teto (outros rabinos dizem que eram pedras preciosas ou pérolas para orientá-los no tempo dia e noite).

Levou 120 anos tal obra grandiosa. O dilúvio durou quarenta dias e quarenta noites, porém, Noé e sua família passaram um ano solar inteiro dentro da arca, até que as águas secaram totalmente de sobre a face da terra. Ou seja, durante um ano, Noé e seus filhos passaram alimentando, incansavelmente, todas as espécies de animais da arca. Cada espécie recebia o tipo de alimento adequado para si, no tempo correto que deveria se alimentar.

Depois de saírem da arca, recomeçaram a procriar, se multiplicar e recomeçaram e a se corromper.  D-us permitiu a ingesta de carne, desde que o animal estivesse morto (até então, eles eram veganos). Instituiu as 7 mitzvot dos filhos de Noé. Houve o episódio da bebedeira de Noé. Cham contou aos irmãos que o pai estava despido na tenda. Os irmãos Shem e Iefet foram cobri-lo. Cham foi castigado pela falta de respeito. Shem e Iefet receberam bênçãos de Noé.

Os judeus são descendentes de Shem, por isso, são chamados de semitas e quem é contra eles, são chamados de antissemitas.

Começaram a construir uma torre (Torre de Babel), cujo objetivo era chegar até os céus e guerrear contra D-us. Nossos sábios falam que, quando caía um tijolo, eles se lamentavam, já que a matéria prima era de difícil acesso, porém, quando perdiam um ser humano, não havia sofrimento algum.

Como cada ato tem sua consequência: houve o episódio da "confusão" das línguas. Hashem os confundiu criando as 70 línguas. Caos. Como não se entendiam mais, tiveram que interromper o trabalho.

O autor da façanha da Torre de Babel foi Nimrod, neto de Cham.

AVRAHAM AVINU, O PRIMEIRO JUDEU

Filho de idólatras, desde cedo acreditou na existência de um D-us único. Andou na "contramão" com o monoteísmo, por isso foi chamado de Avraham, HaIvrí (do outro lado). De um lado ficavam os politeístas e do outro, Avraham, o monoteísta.

Primeiramente, seu nome era Avram, depois foi lhe acrescido uma letra no nome e foi chamado de Avraham. Era casado com sua sobrinha Sarai (que depois recebeu o nome de Sará). Junto com o sobrinho Lot foram, ao comando de D-us, para a terra de Kenaan.

Como não tinha filhos, Avraham casou-se Hagar, sua serva, que outrora fora uma princesa egípcia. Do casamento nasceu Ishmael. Aos 99 anos, Avraham fez brit milá (circuncisão). Aos 100 anos teve Itzchak, filho de seu casamento com Sará, na época com 90 anos. Os judeus são descendentes de Itzchak. Ishmael fez brit milá aos 13 anos e Itzchak foi o primeiro a fazer brit milá com 8 dias.

Espero que tenham gostado da pincelada nesta parte da história.
Boas notícias e Refuá Shlemá para todos os doentes do planeta.

Pessach Kasher veSameach!
Miriam Benzecry

miriam.i.benzecry@gmail.com


















sábado, 14 de março de 2020

A PESTE NEGRA

A ideia de escrever este post foi inspirada num Shabat Shalom que recebi na última sexta. Diferente das tradicionais chalot, vinhos, velas e flores, veio uma foto de alguém lavando as mãos (foto) - um lembrete aos cuidados atuais de higiene que devemos ter como precaução ao Corona Vírus.



Imediatamente relacionei a foto a dois assuntos:
1. Regras judaicas de higiene.
2. A peste negra.

REGRAS JUDAICAS DE HIGIENE

O Código de Leis Judaicas (Shulchan Aruch) enumera dezenas de casos e leis - halachá sobre as questões de higiene.

A começar pela lavagem ritual das mãos (Netilat Iadaim), obrigatória ao acordar, antes de rezar,  ao sair do banheiro, antes de comer, pegar no sapato, coçar a cabeça, pegar em partes cobertas do corpo, cortar unhas, etc.

No rol da leis de higiene encontram-se o uso de roupas limpas e banho, limpeza antes das tefilot e higienização de alimentos.

Antes de enterrar um morto, também é feita uma lavagem ritual.

A PESTE NEGRA

Em 1348 até 1951, a Europa foi invadida pela pandemia da peste negra.

A peste negra veio da China e de países mongóis! (Está espantado com essa informação?). A doença era chamada dessa forma, em virtude de causar grandes manchas negras na pele dos contaminados. Em um estágio posterior, vinham os inchaços em regiões de grande concentração  de gânglios do sistema linfático (bubões). Daí a origem do outro nome da doença - peste bubônica.

Hoje, sabe-se que a peste negra foi transmitida pelo bacilo Yersínia pestis, que se alojava em pulgas, que, por sua vez, picavam os ratos, que vieram nos porões dos navios mercantes que viajavam para a Europa, contaminando as fontes de água e o ar. Junte a informação às precárias condições higiênicas da população e das cidades, e a falta de conhecimento científico para o combate à doença.

Desta maneira, a peste negra se espalhou em grandes proporções pelos países europeus vitimando 25 milhões de pessoas.

OS JUDEUS E A PESTE NEGRA

Justamente por seguirem as regras da lavagem ritual das mãos e de higiene impostas pela halachá, os judeus foram atingidos pela doença em escala bem menor do que os nāo judeus. Cerca de 20% dos casos.

Tal disparidade nos números chamou a atenção da população não judia. Logo, encontraram um bode expiatório para a proliferação da doença: os judeus! E de nada adiantaram os apelos do Papa Clemente VI para que não atacassem os judeus.

CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS

Milhares de judeus foram mortos em consequência dos violentos ataques; casas saqueadas; e, comunidades inteiras dizimadas.


  1. D-US NO COMANDO


Apesar da acusações absurdas que recairam sobre os judeus na época,  devemos estar conscientes de que elas não se limitaram somente à Idade Média - a Idade das Trevas, muito menos às massas ignorantes, conforme escrito na Hagadá de Pessach "Não somente um se levanta contra nós para nos destruir. Mas em cada geração tem quem se levanta contra nós para nos destruir. D-us nos salva das mãos deles".

Espero que tenham gostado.
Qualquer pergunta, podem escrever para o e-mail miriam.i.benzecry@gmail.com.br

Até a próxima!









terça-feira, 10 de março de 2020

O PROFETA SHMUEL (SAMUEL)

The Tomb of Samuel the Prophet - Sacred Sightseeing: Kever Shmuel ...
Túmulo de Shmuel, o profeta, em Ramá, território de Efraim



REVISÃO DO PERÍODO DOS SHOFTIM

YEHOSHUA (Josué), o sucessor de Moshê (Moisés) morreu aos 110 anos. Sem deixar um líder que unificasse o povo, teve início o Período histórico dos Juízes - Tekufat Hashoftim.

O período dos Shoftim durou cerca de 335 anos e, teve como característica o círculo recorrente de "descidas" e "subidas" espirituais que começava com um período de calmaria. O povo de Israel transgredia as leis da Torá, e como consequência, era atacado por um inimigo. Arrependido, se comprometia com as leis da Torá. D-us, então, mandava um líder, o Shofet, que os conduzia à vitória sobre o inimigo. Um novo período de tranquilidade se instaurava até que um novo ciclo retomasse.

Ao todo, 15 Shoftim lideraram o povo de Israel. Uns mais conhecidos, outros, nem tanto. Para mais detalhes sobre o período, aconselho acessar os posts sobre GUID'ON BEN YOASH e SHIMSHON.

SHMUEL, O PROFETA

A história do profeta Shmuel (Samuel) começa ainda antes de seu nascimento, na época de Eli Hacohen, o décimo quarto (e penúltimo) Shofet. Shofet (juíz) é o singular de Shoftim (juízes).

Na montanha de Efraim, vivia um destacado judeu de nome Elkaná (filho de Yehoram, neto de Elihú e bisneto de Tzuf). Elkaná tinha duas mulheres, Hana e Pnina. Hana era estéril, já Pnina tinha muitos filhos (o Midrash fala em 10 filhos).

Por conta da proliferação das ideias idólatras na terra de Israel e por não compactuar destas, Elkaná fazia questão de subir até Shiló, onde estava o tabernáculo (Mishkan), para oferecer sacrifícios para  D-us. Elkaná levava sua família inteira para cumprir com a importante mitzvá de Aliá Lareguel (perigrinação ao Santuário). Ele fazia isso algumas vezes por ano e sempre escolhia um caminho diferente para que mais pessoas pudessem ser influenciadas por ele. Por onde passava, Elkaná levava alegria e incentivava o povo a segui-lo.

Pelo fato de não ter filhos, Hana vivia amargurada. Pnina, por outro lado, não perdia a oportunidade de lembrá-la de sua infertilidade. Certa vez, quando estavam em Shiló, por ocasião da distribuição das porções do sacrifício oferecido por Elkaná, Hana levantou-se chorando, recusando-se a comer da porção especial destinada a ela. Vale lembrar que as porções do sacrifício eram distribuídas por Elkaná a Peniná e aos seus filhos e filhas. Como demonstração de apreço, Hana recebia uma porção maior do que os demais.

Hana levantou-se, rezou a D-us e chorou copiosamente. Naquela ocasião fez uma promessa que, se tivesse um filho (homem), ele seria um Nazir (Nazireu - veja a definição e as implicações do Nazirato, no post de Shimshon - link acima) e que ele dedicaria sua vida ao serviço divino.

Eli, o Cohen, que estava sentado junto a uma coluna  do Templo, observou que Hana movia seus lábios, sem, no entanto, ouvir nenhuma palavra que saía da boca da mulher. Eli concluiu que Hana estava embriagada. Eli foi tomar satisfações com Hana.

Ao constatar o engano, Eli a abençoou, dizendo: "Que D-us conceda o seu pedido!".

Hana voltou para onde estava a família e ingeriu sua porção do sacrifício. Parecia que a vida estava lhe sorrindo, pois a amargura e a angústia haviam passado.

"EL HANAAR HAZE HITPALALTI" -  "POR ESTE MENINO, EU REZEI"

Realmente o pedido de Hana se concretizou, ela concebeu um menino, que foi chamado de Shmuel, "ki MeHashem Sh'iltiv" - "Porque o tenho pedido a D-us".

Durante a primeira infância de Shmuel, Hana deixou de acompanhar Elkaná nas peregrinações até Shiló. Ela espera que o pequeno ficasse mais forte para que pudesse cumprir a promessa de entregá-lo ao trabalho sagrado no Mishkan. O que foi feito tão logo completou 2 anos de vida, quando Shmuel foi desmamado.

A família retornou para casa e Shmuel ficou servindo a D-us, em Shiló, sob tutoria de Eli, o Cohen.

OS FILHOS DE ELI

Apesar de serem filhos do abnegado Eli, Chofni e Pinchas eram perversos. A conduta dos jovens não condizia com que se era esperado dos filhos do Sumo Sacerdote e líder da geração. Pelo contrário, aproveitavam-se da posição privilegiada para receberem subornos e para manchar a honrada posição dos sacerdotes (Cohanim).

Enquanto isso, Shmuel servia diligentemente seu mestre. Eli foi envelhecendo e a má fama de seus dois filhos, que corria por todos os cantos da terra de Israel, chegou aos seus ouvidos. O sacerdote  os admoestou: "Os juízes julgam as ações do homem para com o próximo, porém contra D-us, quem o defenderá?". Em vão.

Os filhos de Eli continuaram no caminho corrupto e acabaram morrendo num confronto com os filisteus. Ao saber da morte de seus filhos, Eli também acabou morrendo. Shmuel assumiu a liderança do povo.

SHMUEL, O NOVO LÍDER

Shmuel não contentou-se em ficar em Shiló, esperando que o povo fosse a sua procura. Ele saía ao encontro do povo, estimulando e motivando os judeus a seguirem o caminho de Torá e mitzvot. Shmuel incentivou o povo a levar uma vida plena dentro do plano divino.

Quando Shmuel assumiu a liderança, o povo encontra-se desunido. Eram doze tribos literalmente separadas. O ponto em comum entre elas era que, juntas formavam um país: Israel.

Com a política de aproximação do povo, Shmuel conseguiu uni-los novamente, vencendo seus arqui-inimigos - os filisteus. Reconquistaram as cidades capturadas pelos filisteus e reconstruíram Shiló, a cidade onde se localizava o Santuário.

Shmuel jamais recebeu pagamento pelo trabalho que realizava. Aclamado por todos, pôde ser comparado a Moshe e a Aharon, conforme está escrito no livro do Tehilim: "Moshe veAharon bechoanav, uShmuel bekoreê Shemo, Kor'im el Hashem veHu Iaanem" - "Moisés e Aarão estavam entre Seus sacerdotes e Samuel entre os que invocaram D-us ... Eles chamavam D-us e Ele lhes respondia" (99:6).

O PRIMEIRO REI DE ISRAEL: SHAUL (SAUL)

Com o aumento das investidas dos filisteus, o povo pediu para Shmuel que nomeasse um rei "como todas as nações", para liderar nas batalhas contra os inimigos. A princípio, a ideia não agradou o profeta, mas acabou aceitando.

A nomeação de um rei para o povo de Israel, deu início ao Período histórico dos Melachim (Reis). O primeiro rei escolhido foi Shaul, que falhou na missão de exterminar os amalequitas. David foi, então, nomeado para substituí-lo.

Shmuel morreu e foi enterrado na terra de seus ancestrais.

Com este post, encerramos o tema dos Shoftim.

Espero que tenham gostado.
Dúvidas e observações podem ser enviadas para miriam.i.benzecry@gmail.com

Até a próxima!



domingo, 8 de março de 2020

A HISTÓRIA DE PURIM

Purim é a data mais alegre do calendário judaico, na qual judeus do mundo se reúnem nas sinagogas e casas de estudos (Batê Midrash) para lembrar o milagre da salvação do aniquilamento, planejado pelo malvado Haman ... e, claro, fazer MUITO barulho quando ouvir o nome da referida pessoa. 

Mas, será que realmente sabemos o motivo dessa alegria ímpar?


Resultado de imagem para RECO RECO PURIM
O uso do reco-reco é tradicional em Purim

O objetivo do post da semana é, justamente, trazer a história de Purim de forma simples e didática para que, sabedores da história, possamos nos alegrar de maneira legítima e real, e comemorar (mais uma vez) a nossa existência e permanência como povo. 

Um brinde à vida! Lechaim!!!


CONTEXTO HISTÓRICO

Logo após a destruição do Primeiro Templo Sagrado, os judeus foram obrigados pelos babilônios a deixar a Terra de Israel rumo à Babilônia, onde, com o passar dos anos se adaptaram ao novo ambiente. Os judeus construíram casas de estudo e sinagogas sedimentando uma grande e profícua comunidade judaica. O Judaísmo babilônico ficou bem conhecido por suas grandes obras e sábios. 

Os persas vieram, conquistaram a Babilônia e fizeram com que Império Babilônico desaparecesse. Uma nova grande potência ascendeu. Com 127 países, o Império Persa ia "desde a Índia até a Etiópia". Os judeus passaram a viver sob o domínio persa, cuja capital era a cidade de Shushan (Susa).  

A história de Purim aconteceu no ano de 3392 (calendário judaico) -  369 AEC.


A PROFECIA DOS SETENTA ANOS

Havia uma profecia de Jeremias (Irmiahu), que antevia a reconstrução do Segundo Templo Sagrado depois de passados 70 anos do exílio babilônico. Achashverosh (Assuero), o soberano persa na época, ao calcular quando se encerrava o período, errou nas contas. Por conta disso, ele concluiu que passados os setenta anos da profecia, como os judeus não retornaram à Terra Santa para reconstruir o Segundo Templo, eles permaneceriam para "sempre" em exílio, no Império Persa. Para ele, era também um sinal claro de que o seu Império seria eterno.

Achashverosh resolveu comemorar em grande estilo.


BANQUETE

Achashvesrosh promoveu dois grandes banquetes comemorativos. O primeiro durou 180 dias e o segundo, somente para os habitantes da capital Shushan, que durou 7 dias. Convidou os judeus. Por soberba, ele ainda usou os utensílios do Primeiro Templo Sagrado confiscados na época da destruição do Templo. 

Apesar dos esforços de Mordechai, líder judeu da geração, muitos judeus participaram da festa.


VASHTI

Vashti, a rainha, que era descendente dos reis da Babilônia, também realizou um banquete para as mulheres no seu palácio. Segundo é narrado na Meguilá, ela recusou-se a ir despida (vestida somente com a coroa real sobre a cabeça) para apresentar-se diante dos convidados do rei, que mandou matá-la por rebeldia. 


ESTER

Uma nova rainha foi escolhida para ocupar o lugar de Vashti: Ester. Prima de Mordechai, durante o período de permanência no palácio, ela manteve em segredo o fato de ser judia.

Aliás, Ester foi adotada por Mordechai tão logo nasceu. O que poucos sabem é que Ester tinha um nome de judaico de batismo: Hadassá.

Resultado de imagem para as quatro espécies de sucot
                                                                             Hadass (murta)


Os nomes Ester e Hadassá representam a essência da personalidade da personagem principal da história de Purim, a rainha Ester.

Conforme é trazido no Talmud, Meguilá 13a:

Ester é um nome derivado da raiz hebraica da palavra "hester", que significa ocultação, pois ela não revelou sua origem judaica, seguindo as instruções de Mordechai. O nome tinha também uma semelhança ao vocábulo persa "estehar", que significa lua/crescente, em referência à sua beleza ímpar (como a lua). 

Hadassá vem da palavra Hadass (murta), a planta que tem aroma agradável e doce. A murta é uma espécie que compõe as "Quatro Espécies" de Sucot, àquela que tem "cheiro, mas não tem gosto". A murta representa uma metáfora usada com frequência para descrever as pessoas justas.

Em falar em ocultação, o nome de D-us não aparece escrito na Meguilá. O motivo disso é que toda a história de Purim é uma sequência de eventos naturais (nada de sobrenatural acontece na história) e transmite a ideia de que mesmo os eventos mais naturais do dia-a-dia são causados e manipulados por D-us, em benefício do povo de Israel, apesar de Sua ocultação ostensiva nessa natureza dominante. 

Existe uma tradição que, ao aparecer na Meguilá a palavra "Melech" - Rei, sem vir junto com o nome do rei (Melech Achashverosh), este refere-se ao D-us único.


O COMPLÔ

Por fazer parte do San'hedrin (Grande Tribunal Judaico), Mordechai era fluente em muitos idiomas, inclusive o falado por pelos dois guardas de Acahashverosh, Bigtan e Teresh, que planejaram um atentado à vida do monarca. 

Mordechai relatou o plano a Ester, que, por conseguinte, contou a seu marido, em nome de Mordechai. Os dois rebeldes foram condenados, enquanto que o fato foi registrado no livro de crônicas do rei - uma espécie de diário particular onde era anotada sua rotina. 

Mordechai não recebeu nenhuma recompensa.


HAMAN: AÍ VEM ELE!

Neste meio tempo, Haman é nomeado Primeiro Ministro e, com tanto poder, decretou que todos que cruzassem com ele teriam que se curvar e se prostrar em sinal de respeito. Mordechai não acatou a ordem por ser judeu.

Haman quis se vingar não somente de Mordechai, mas de todos os judeus. E elaborou um plano perverso: Na presença do rei Achashverosh, ele declarou que "Existe um povo espalhado e disperso entre os povos, em todas as províncias do seu reino, cujas leis são diferentes das leis de todos os povos e que não cumpre as leis (decretadas) pelo rei e que não convém ao rei tolerá-lo" (Meguilá 3:8). 

Como só esses argumentos não seriam suficientes para convencer Achashverosh, Haman ofereceu uma larga soma em dinheiro - 10 mil talentos para o tesouro real. O rei não aceitou o dinheiro e deu o seu anel real a Haman ele fazer o que bem entendesse com os judeus.

Haman não perdeu tempo. 

Chamou escribas para que redigissem cartas anunciando o dia 13 de Adar como o dia destinado ao extermínio do povo de Israel. As cartas foram escritas no idioma falado por cada país que fazia parte do Império, de forma que, ficasse claro para todos o intento do decreto.

PURIM

Como Haman chegou nesta data? Fazendo dois sorteios! 

Daí o nome Purim: Pur - sorteio  Purim - sorteios. Um sorteio decidiu o mês do extermínio e o outro, o dia.


HAMAN X MORDECHAI

Vale citar mais um importante fato ocorrido séculos antes, na época do reinado de Saul, o primeiro rei de Israel. 

O rei Saul, pertencente à tribo de Biniamin, fora ordenado por D-us a eliminar todo o povo de Amalek. A ordem não foi completamente cumprida, visto que Saul preservou a vida de Agag, o rei amalequita. Este ato fez com que o reinado de Saul fosse descontinuado (1 Samuel 15).

Haman era descendente de Agag. Inclusive, existem seis referências a esse fato na Meguilá de Ester. Por outro lado, a Meguilá também fala da ascendência de Mordechai. Ele era filho de Yair, filho de Shim'í, da tribo de Binyamin (Meguilat Ester 1:1).

O descendente de Agag - Haman e o descendente de Saul - Mordechai se encontraram centenas de anos depois. Haman quis destruir o povo judeu e Mordechai lutou pela sobrevivência de seu povo.

Ao derrotar Haman e seus descendentes, Mordechai terminou o trabalho "incompleto"de Saul. 


A REAÇÃO DE MORDECHAI

A notícia do decreto de Haman logo chegou aos ouvidos de Mordechai.

Mordechai "rasgou suas vestes e cobriu-se de saco e de cinzas" em sinal de luto. O povo de Israel também chorou amargurado. Mordechai conclamou o povo judeu a fazer teshuvá com preces e jejuns. 

Mordechai avisou a Ester e pediu que esta procurasse Achashverosh para pedir por seu povo. A princípio, Ester ficou temerosa. Há muito não havia sido chamada pelo rei. Mordechai foi enfático: "Não pense que somente você se salvará por estar na casa do rei!". Também disse que se não fosse ela, Ester, a salvadora do povo judeu, a salvação viria de outro lugar.

Ester pediu que jejuassem por três dias. Ela e suas servas também jejuariam.

Mordechai fez conforme Ester pediu.


ESTER NO PALÁCIO

Depois do jejum, Ester foi ao palácio, onde foi bem recebida pelo rei.

O rei perguntou o que ela queria, pois até a metade do reino ele daria, se assim Ester quisesse. Ester pediu que ele viesse, junto com Haman, ao banquete que ela daria em sua casa. O rei mandou apressar Haman e ambos foram ao banquete de Ester.

Mais uma vez, o rei perguntou qual era o pedido de Ester. Ela respondeu que ambos comparecessem a um segundo banquete que ela ofereceria no dia seguinte. 

Haman não se continha de tanta alegria pela honra recebida na casa da rainha. Mal saiu do banquete, encontrou com Mordechai no caminho, que mais uma vez não se prostrou perante ele. Haman ficou irritado pela atitude de Mordechai.

Chegando em casa, contou para Zeresh, sua esposa. Zeresh o aconselhou a construir uma forca muito alta para enforcar Mordechai. Haman seguiu o conselho de Zeresh.


A QUEDA DE HAMAN

Naquela mesma noite,  depois do banquete com Esther e Haman, Achashverosh não conseguia dormir. Pediu que lhe trouxesse o livro de crônicas.  O rei foi lembrado do caso de Bigtan e Teresh, os dois guardas que queriam matá-lo. Viu também que Mordechai não havia recebido nenhuma recompensa por ter salvado a vida do rei.

Na manhã seguinte, logo cedo, Haman foi falar para o rei enforcar Mordechai. Nem bem entrou no pátio foi chamado por Achashverosh, que lhe perguntou: "Que se deve fazer ao homem a quem o rei deseja honrar?" (Meguilá 6:6).

Haman pensou que o rei queria lhe presentear com alguma honra e ele respondeu: "Que seja vestido com os trajes reais, monte no cavalo do rei e que use a coroa real na cabeça. E que desfile pela praça da cidade, puxado por um dos príncipes da fidalguia e que conclamem diante: "Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar"' (Meguilá 6:8-9).

O rei não pestanejou. Mandou que Haman fizesse para Mordechai exatamente conforme havia sugerido. Coube ao próprio Haman puxar o cavalo de Mordechai. Sem tirar nem pôr.



Resultado de imagem para Meguilat esther images


Haman foi chamado para o segundo banquete promovido por Esther.


"QUEM COM FERRO FERE, COM FERRO SERÁ FERIDO"

Ester finalmente revelou ao rei Achashverosh sua origem judaica e o plano de genocídio de Haman. Ao implorar por sua vida, Haman cai por cima de Ester. O rei presenciou a cena e deduziu que Haman quisera assediar sua esposa na sua frente.

Haman foi enforcado na forca que preparou para enforcar Mordechai.

Achashverosh legou a propriedade de Haman para Ester, que, por sua vez, a entregou para Mordechai administrar. Mordechai também recebeu o anel real. 

De acordo com as leis persas, como um decreto emitido e selado pelo rei não poderia ser revogado, foi permitido promulgar outro decreto permitindo que os judeus se defendessem e matassem seus inimigos. Os dez filhos de Haman também foram mortos.

Achashverosh instituiu novos impostos sobre o povo e Mordechai cresceu aos olhos do rei.

A comemoração de Purim foi instituída por Mordechai e Ester para todas as gerações. Além de escutar por duas vezes a leitura da Meguilá, os judeus aproveitam o dia para fazer algumas mitzvot que fortalecem a união do povo: mandar um cesto com pelo menos dois alimentos, dar dinheiro aos mais necessitados e confraternizar numa refeição festiva.

"Para os judeus houve esplendor, alegria, regozijo e honra" (Meguilá 8:16).



Este post é dedicado à memória de meu querido pai Yehudá ben Sol, falecido em 13 de Adar.


Espero que tenham gostado.
Purim Sameach!!

Comentários e perguntas podem ser enviados para miriam.i.benzecry@gmail.com